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Os Novos Maias… no século XXI

Opinião – Ovo de Colombo

No ano em que se comemoram os 40 anos do “Expresso”, o semanário teve a feliz ideia de desafiar seis escritores portugueses para imaginarem um novo final para o grandioso romance “Os Maias”, de Eça de Queirós. Repto difícil, mas, creio, estimulante que deu origem a três pequenos livros, cada um escrito por dois autores: José Luís Peixoto e José Eduardo Agualusa; José Rentes de Carvalho e Mário Zambujal; Clara Ferreira Alves e Gonçalo M. Tavares.

Fiéis a si próprios e preservando o que de melhor os seus peculiares estilos têm, estes escritores ousaram: ousaram porque reescrever Eça é tarefa árdua e corajosa, de grande responsabilidade e, simultaneamente, de enorme exigência. Eça é inimitável. Eça é único. Eça é, e perdoem-me a falta de imparcialidade, um dos maiores vultos da Literatura Europeia de oitocentos.

Contudo, precisamente porque esta reescrita é um ato de respeitosa leitura, um ato de releitura e interpretação, estes seis escritores conseguiram dar o seu olhar pessoal a um novo final da narrativa. Uma narrativa que, apesar de fechada, convida o leitor a procurar novos caminhos para o “último Maia,” como se não aceitasse que a vida da personagem terminasse ali, naquela corrida desenfreada para apanhar o americano que o conduziria ao Hotel Bragança, para mais uma tertúlia jantante.

Aqui está um dos segredos do sucesso desta iniciativa do “Expresso”: perceber o valor e densidade da personagem queirosiana, o seu simbolismo e o seu poder dialogante com o presente. O que os “novos” Maias nos oferecem é precisamente uma atualização da história de um dos grandes romances da literatura portuguesa, construída com base na migração de personagens e de histórias. Um Carlos da Maia e um Ega que, ao contrário de Eça, têm ainda a oportunidade de viver a República, o Estado Novo, o Marcelismo e dar opinião sobre os diferentes momentos políticos que o país atravessou.

Assim, convidamos o leitor a reler “Os Maias” e, em seguida, a procurar saber que destino reservaram estes seis escritores contemporâneos à história queirosiana.

Ana Teresa Peixinho*

*Professora da Universidade de Coimbra

Próxima semana: Diana Rafaela Pereira (troca pontual com Eduardo de Mora)

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