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«Os novos dispositivos tecnológicos já são partes do ser»

Ciclo sobre a “Era da Cibernética” juntou vários especialistas na Mediateca VIII Centenário da Guarda

Miguel Prata Gomes, docente da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, defendeu no último dia do ciclo de conferências sobre cibercultura, realizado na semana passada na Mediateca VIII Centenário, da Guarda, que os novos dispositivos tecnológicos passaram «a ser e a funcionar como partes do ser». Para exemplificar esta tese, o especialista, natural da Guarda, que falava no âmbito de uma conferência sobre “A Mente Distribuída – Como nos Tornámos Pós-Humanos, adiantou que o cursor dos computadores já é «uma extensão da nossa própria mão», o mesmo acontecendo com os automóveis, «cada vez mais prolongamentos do nosso corpo» ou a televisão, «os nossos olhos».

Subordinada à “Era da Cibercultura”, esta sessão, que reuniu vários especialistas durante dois dias, forneceu pistas para a percepção da influência da cultura digital e electrónica nas sociedades modernas, manifesta na educação, ensino, ciências, conhecimento, pensamento filosófico, sociologia, economia, cultura e artes, entre outras actividades. O objectivo era questionar sobretudo qual será neste momento a relação existente entre o homem e a “máquina”. Temática que Miguel Prata Gomes ilustrou com vários exemplos reveladores da «omnipresença» da tecnologia. «Há uma certa incorporação desses dispositivos, que já são uma parte de nós mesmos e nos permitem superar os nossos limites reais. Nesse sentido, estamos a assumir uma condição pós-humana», referiu, garantindo que já faltará pouco tempo para que a cibernética comece a gerar “cyborgs”, «uma mistura interactiva entre algo orgânico e tecnologicamente construído». Nesse sentido, aludiu a uma experiência na Universidade de Duke onde macacos conseguiram controlar um braço robótico através unicamente dos seus sinais cerebrais. A equipa de investigadores, liderada por Miguel Nicolelis e que integra o jovem guardense Rui Costa, chegou à conclusão que os símios aprenderam a utilizar uma BMI – “Brain Machine Interface” – e puderam manipular o robô.

O objectivo desta investigação, que já está a ser feita com humanos, é construir próteses para que pessoas com lesões graves na medula espinal possam ter movimentos próprios, mas Miguel Prata Gomes considera-a «reveladora» de que o sujeito descentra a sua subjectividade num dispositivo e volta a incorporá-la nas suas células cerebrais. «Será esta uma nova condição pós-humana?», o professor não quis arriscar uma resposta. O ciclo sobre a “Era da Cibernética” teve ainda os contributos de António Machuco (Universidade Lusófona), José Carlos Miranda (ESTG/IPG), António Matias Gil (Dom Digital), Paulo Serra (UBI) e Francisco Godinho (UTAD). Intervenções ilustradas pelo filme “Jogos de Guerra” e um concerto multimédia pelo grupo guardense “Buster Bitz”.

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