Quero um notário e dois presos afirmava em 2084 Fernando Pereira à medida que se aproximavam os meses de balanço. Tenho uma empresa que certifica as coisas que construo, mas falta-me quem registe as coisas que crio e produzo. Quero um notário e um farmacêutico. Quero meia dúzia de médicos e alguns engenheiros. A coisa está barata desde que liberalizaram os alvarás e retiraram os “números clausus”. Temos desemprego de profissões liberais e portanto eles apanham-se à uva mijona. Há quarenta anos era um problema. Comprava-se uma farmácia e era uma máquina de facturar. Com os notários foi inicialmente igual. Depois foi bom para os registos quando se privatizaram os arquivos. Imaginem como desapareceram as filas e os tempos mortos. Queria um registo predial, havia logo quem o fizesse. Em 2070 foi a liberalização das patentes e dos alvarás. Farmácias, há-as por todo o lado, como bancas nos mercados, como papelarias, como notários e prisões. Antes os presos não podiam fazer e ser donos de cadeias, mas com a livre concorrência podem. Explodiram as cadeias privadas em que muitas são quase hotéis de luxo. O que está “pior” em 2084 são os direitos de caçar, de nadar, de conduzir, de trabalhar, pois agora tudo se certifica, recertifica e obriga a exames verificáveis. Já não caçam zarolhos e não conduzem alcoólicos. O início da revolução liberal é a privatização dos notários, das cadeias, da luz, da água, da televisão. O futuro é aberto e liberal. Faltam os cidadãos, os consumidores defenderem-se dos monopólios, das decisões arbitrárias de quem tiver o sistema na mão. Gosto disto!
Por: Diogo Cabrita