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Os Maiores Portugueses e as Piores Cidades

Foram lançadas há pouco duas discussões em que deveríamos todos intervir. Refiro-me à eleição do maior português de sempre, iniciativa da RTP, e da lista do Expresso sobre as melhores cidades para se viver em Portugal. Essas discussões acertam ambas no coração no nosso amor próprio e questionam a nossa relação com o país e a cidade. Trazem também duas perguntas: que fizemos da nossa memória, que fizemos da nossa cidadania?

É claro que essas duas questões iriam ser pretexto para algumas grotescas manipulações e injustiças. Ficou por exemplo a saber-se que, para milhares de Portugueses, Pinto da Costa, Alberto João Jardim, Herman José e Catarina Eufémia, para não mencionar um actor de telenovelas da TVI de quem não recordo o nome, mereciam integrar a lista dos cem maiores portugueses de sempre. Não é que tenha grandes objecções a apresentar a essas preferências, que sendo genuínas pouco mais significariam do que a básica inviabilidade da nação. O que me inquieta é o que estas escolhas indicam de verdadeiro, de profundo, sobre o sentido último da portugalidade: este é um pais em tudo o que há hoje de relevante tem como pedra de toque a “cunha”. Por isso, por cunha, foram uma ou duas dúzias de seres perfeitamente banais “arrumados” numa plêiade de gente ilustre. Se me perguntarem por preferências, tenho muitas dúvidas e muito por onde hesitar, que este pais não é tão mau que tenha de introduzir Alberto João Jardim no seu top 100. D. João II, Camões, Pessoa, Bartolomeu Dias, D. Henrique, Sebastião José de Carvalho e Melo seriam todos candidatos legítimos. Mas eu escolheria Camões, o mais português, para o bem e para o mal, de todos.

A Guarda é uma das piores cidades para se viver, diz o Expresso. Tem défice de cidadania, pouca capacidade de atracção para estudantes, pouca vitalidade económica e nenhuma vida nocturna, pouca oferta cultural, pouca restauração de qualidade (onde raios foram os jornalistas do Expresso comer?), deficiente sinalética, má qualidade urbanística, poucos espaços verdes, pouco comércio, fraco desempenho económico. Em suma, uma merda. Ao menos para os jornalistas do Expresso. na fotografia que nos tiraram, ficamos todos mal. Mas quem fica muito mal mesmo é a Câmara Municipal, responsável por alguns dos piores indicadores. Dirão que há injustiça na avaliação, e acredito também que sim. Os senhores jornalistas terão mesmo ido a Torres Novas? Ou, sem ofensa, à Covilhã? De resto, cabe aqui recordar um outro estudo de há uns anos atrás, igualmente criticável e igualmente pretexto para conclusões precipitadas: aquele que colocava a Guarda, a mesma deste último estudo, senão pior ainda, no topo das melhores cidades para viver.

Sugestões:

A Estrada Verde – e roubaremos à Covilhã a sua namorada, a Serra da Estrela.

Devolvam o IPG à Guarda – e transformem-no outra vez no melhor politécnico de Portugal (mais uns pontos na cotação do Expresso).

Por: António Ferreira

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