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OS LIVROS DA MINHA VIDA

Somos aquilo que lemos, os autores que admiramos, os que nos interpelam ou indignam, entre outras complexidades. Esta crença terá fundamento?

O primeiro livro que me escolheu e fascinou foi a Bíblia, com as suas histórias de amor como a de Sansão e Dalila, ou de dor como a de Job, a quem uma desgraça sucedia a outra e ele a tudo resistia com a sua fé. Mas o que mais me tocou foi Jesus, bebé pobrezinho, que me trazia prendas no Natal. Actualmente, é um livro que me continua a provocar por ampliar a compreensão do Homem Ocidental.

Em companhia de O Corsário Negro de Emílio Salgari, percorri mares, preguicei na Ilha das Tartarugas, entranhei-me na selva, enfrentei tempestades e, muito mais tarde, tornei-me no impossível: turista aventureira!

Na obra A Paixão de Jane Eyre de Anne Bronte, adolescente encontrei, sem disso ter consciência na altura, um modelo de amor e de mulher, digna e corajosa, que se fez na adversidade. Numa época em que as mulheres tinham como projecto mais elevado o casamento, Jane aprendeu o prazer de saber e de ser autónoma. A leitura compulsiva desta obra foi controlada pela paixão por Guerra e Paz de Tolstoi. Assim, entrei no esplendor da Rússia, em bailes sumptuosos… e indignei-me com os horrores da guerra.

Cresci e perdi-me em intimidades com Álvaro de Campos. Este tomou conta de mim, nunca mais o meu olhar sobre o mundo foi o mesmo. E, presentemente, ainda se faz ouvir: “Come chocolates, pequena…”. O apaziguamento veio ter comigo com As Cidades e as Serras de Eça de Queirós, com a aventura atormentada de Jacinto, entre o conforto e sofisticação citadina e a beleza e tranquilidade do campo.

Já o policial Maigret, de George Simenon, trouxe-me o fascínio de desvendar crimes e um olhar humano a incluir seres à deriva. Acompanhei, livro a livro, a sua carreira; bebi cerveja, deambulei noite fora pela Pigalle, amando o perigo e o interdito.

Uma obrigação de adulta ofereceu-me A Origem da Tragédia de Friedrich Nietzsche. Ao desafio associou-se o deslumbramento. O pensamento, que alimentou séculos e séculos, colocado em causa!

Em Caminho Errado de Elisabeth Badinter, a “Igualdade entre homens e mulheres” interpela-nos.

“Quem lê lê-se” – o “Poema” de José Gomes Ferreira, a minha biografia autorizada, comprova-o.

Em busca de “O Sol em cada Sílaba”, vou de livro em livro…

Ana Pinho

(professora)

Sobre o autor

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