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Os Jardins romanos

Nos Cantos do Património

Os edifício privados de época romana eram caracterizados por espaços com diversas funções, sendo um dos elementos arquitectónicos que mais se destaca, pela aparência que criava e a sua imponência, o jardim.

Como já evidenciámos nesta coluna, mesmo as habitações dispersas pelo espaço rural do Império, as uillae, possuíam toda a comodidade das habitações das cidades, desde as termas, estatuária, mosaicos coloridos a ornamentar os pavimentos, entre outros, propriedade de abastados proprietários, com poder monetário, que lhes permitia aferir e implantar no espaço rural elementos culturais e arquitectónicos de características urbanas.

O conhecimento da planta de diversas uillae romanas, desvendado através de escavações arqueológicas, tem permitido verificar aquilo que já conhecíamos das fontes escritas, a existência de habitações com peristilo, ou seja, um pátio rodeado por um pórtico. Podiam ser espaços vazios, embora o mais comum fosse a presença de uma pequena fonte ou tanque.

Eram verdadeiros jardins, onde peixes e plantas coexistiam, quer em ambiente aquático, quer através da presença de canteiros. Estes últimos encontram-se presentes, por exemplo, em Conimbriga, enquanto os peixes encontram representados em mosaicos, como na uilla de Milreu (Algarve).

Um dos exemplos de peristilo melhor conhecido no nosso território corresponde à Casa dos Repuxos, em Conimbriga, que apresenta, na área central da ínsula um peristilo, com lago donde sobressaem pequenos canteiros, de planta subcircular.

Também no Alentejo foram detectados exemplares desta natureza, como em S. Cucufate (Beja), onde na uilla do século II foi identificado um jardim interior, em torno do qual se desenvolvia um peristilo, possuindo na área Oeste uma bacia de planta sub-circular.

Na Beira Interior foram identificadas situações semelhantes, como em Centum Cellas (Belmonte), onde a escavação da Dr.ª Helena Frade permitiu a identificação de um pátio, com pórtico envolvente e em torno do qual se distribuíam os compartimentos.

O jardim era levado para o interior da arquitectura doméstica, criando ambientes bucólicos, espaços de reflexão e prazer, não só para o deleite do proprietário, mas também dos visitantes.

Sendo a área central da habitação, muitas das divisões possuíam aberturas para este espaço, principalmente as que teriam uma função social, com maior destaque para a sala de jantar, oecus triclinium, onde se abriam portas largas para o peristilo, criando um cenário aprazível.

Por outro lado, a existência de áreas ajardinadas permitia o arrefecimento da habitação no período de verão. As habitações romanas possuíam escassas janelas para o exterior, entrado a luz do sol sobretudo pelo peristilo, reflectindo-se na água.

Pretendia-se transpor o universo exterior do dia a dia para o interior das habitações, não só com o peristilo, mas também com a representação nos mosaicos de fauna, flora, cenas de caça e míticas…

Uma organização do espaço, com compartimentação ordenada, de acordo com as áreas mais expostas à luz solar, complexo sistema de escoamento de águas das áreas ajardinadas, permitem-nos afirmar que a presença de peristilo corresponde à elaboração de um projecto de arquitectura bem definido, previamente à construção do edifício, seguindo genericamente as orientações de Marcus Vitruvius Pollio.

Por: Vítor Pereira

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