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Os homens são da Cerci, as mulheres são de Mensa*

Observatório de Ornitorrincos

Durante a minha adolescência ouvi várias vezes a minha Mãe dizer que quando eu crescesse deveria ganhar responsabilidade e morar sozinho. Já a minha última namorada dizia-me que quando eu crescesse deveria ganhar responsabilidade e morar com ela. O meu problema com as mulheres é este. Querem sempre coisas diferentes umas das outras. Como se não bastasse, exigem que adivinhemos. E não perdoam respostas erradas. Não conheço nenhum homem que estranhasse o concurso “O Elo Mais Fraco”. Todos, pelo menos uma vez na vida, ouvimos aquelas palavras da boca de uma mulher, depois de errarmos uma série de respostas: “És o elo mais fraco. Adeus.”

E um gajo não pode aprender? Pode, mas não serve de nada. Para a que nos pôs fora de jogo, já não adianta saber as respostas. Para qualquer outra que se siga, e ao contrário do Trivial Pursuit, o facto de já nos ter saído a mesma pergunta uma vez não implica que a resposta do turno anterior seja a correcta.

Um homem está para uma mulher como os serviços de informação estão para a Al-Qaeda. Nunca se sabe onde nem como vão atacar a seguir. Os homens, na sua profunda grunhice, preparam-se para cada embate apenas com o que foi aprendido nos choques anteriores. As mulheres, ágeis e inteligentes, nunca repetem procedimentos, embora dêem bastante importância à simbologia das datas.

Tenho para mim que os homens não percebem as mulheres pela mesma razão que um aluno da 4ª classe não entende Geometria Analítica: falta de instrumentos cognitivos adquiridos. Não acredito na tese machista que defende que as mulheres sejam tão incompreensíveis como os livros de Boaventura Sousa Santos. A sensibilidade feminina, profundamente descrita por Simone de Beauvoir e Mónica Sintra, é mais complexa que um discurso de Jorge Sampaio e mais inextrincável que um pensamento de Ferro Rodrigues. Ao contrário, a masculina (nos casos em que chega a existir) é incipiente e emociona-se com qualquer grade de bebidas gaseificadas trazida por um amigo.

A questão do predomínio masculino nos lugares de poder, que ocupa há centenas de anos filósofos e sociólogos, tem duas explicações sobrepostas. Por um lado, os homens, à bruta, proibiram estupidamente as mulheres de mandar. Por outro, estas perceberam há muitos anos que este mundo não tem solução e não vale a pena perder tempo a organizá-lo, principalmente quando há saldos de seis em seis meses.

Quanto ao facto de ainda viver sozinho desconfio que seja por não saber arrumar os livros nas estantes por ordem alfabética das cores das capas.

* Mensa: organização internacional para pessoas extremamente inteligentes. Não constam dos seus ficheiros políticos, advogados, universitários e homens em geral.

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EU SOU UM ORNITORRINCO

Por qualquer fenómeno elíptico desconhecido, o título desta rubrica na passada semana saiu sem verbo, formando o título “Eu um ornitorrinco”. Gralha ou má vontade, a verdade é que, embora desadequado do texto (sobre um ex-Secretário Geral da ONU, também conhecida por OH NÃO), o título enunciava uma verdade. Também eu sou um ornitorrinco. Como os druidas nos livros do Astérix, só um ornitorrinco pode conhecer os segredos de outro. Esta coluna segue a metodologia antropológica do observador participante. O meu bico de pato e o corpo redondo e achatado com uma enorme cabeça plantada no topo e um cérebro pouco menos que minúsculo tem intrigado a Ciência e a Humanidade. E os leitores desta página também, claro.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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