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Os desafios

Crónica Política

As estatísticas demográficas continuam cruéis e frias na análise da evolução negativa da demografia do interior.

Décadas de programas de investimento público, comparticipados pelo esforço europeu de promoção do desenvolvimento regional, não inverteram a tendência negativa. O desafio, sendo nacional, é sobretudo regional e local para a periferia geográfica do território, que é também a periferia económica do país. Satisfeitas as necessidades básicas da população, o desafio é agora o reforço da competitividade dos territórios e o desenvolvimento da sua economia.

A crise económica que ainda vivemos, motivada pelo descontrole das contas públicas do Estado e do sistema financeiro português, que obrigou a um difícil programa de ajustamento que sufocou as empresas e os cidadãos, não ajuda no esforço de coesão nacional. Mas esta conjuntura não desculpa a inação das entidades locais que beneficiarão agora de um novo programa de investimento público.

A atração de investimentos produtivos que criem emprego, o apoio às empresas, a dinamização da economia em todos os setores de atividade, o incentivo ao empreendedorismo, a formação de ativos, constituem os novos desafios que se colocam a nível local e regional. Para isso, é essencial a definição de uma estratégia assertiva e ambiciosa, que articule o nível local e regional.

Atentos aos enormes desafios que se colocam é cada vez mais importante o papel dos agentes locais, quer institucionais, quer associativos, quer empresariais. O seu grau de preparação, a sua qualificação, a abertura a novos horizontes, o sentido estético, a vontade de partilhar desafios e de colaborar em projetos de impacto regional são condições mínimas de exigência que as sociedades locais devem requerer designadamente aos eleitos.

As comunidades menos exigentes vão ficar para trás e prejudicar o esforço de outras. No distrito da Guarda, e no quadro dos territórios da Comunidade Intermunicipal, é visível como existem diferentes velocidades na promoção da competitividade dos territórios municipais. Há municípios com ambição, com estratégia, cujos resultados vão já aparecendo, e outros que definham, que se atrasam, que perdem competitividade. E quando assim é não se podem assacar responsabilidades apenas ao Estado, apesar deste ser o principal ator no ordenamento do território.

É esta a triste sina de territórios deprimidos, onde os desafios são extremos e urgentes, mas que se entretém em intrigas de política caseira, sem proveito para o povo. O interior não vai ter muitas mais oportunidades e todos, todos sem exceção, somos cúmplices, pela ação ou pelo silêncio, com a morosidade política e o atavismo de tantos. Como vivemos em democracia e se tem verificado o respeito pelas normas constitucionais, direi que apenas temos aquilo que quisemos ter.

Por: Júlio Sarmento

* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e ex-líder da Distrital do PSD da Guarda

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