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Os cinco magníficos

Cinco quadros de outros tantos grandes mestres da pintura contemporânea portuguesa em exposição em Penamacor

É uma oportunidade única. Durante os três dias da Facep – Feira das Actividades Económicas de Penamacor, que começa amanhã e termina domingo, estará patente ao público, no átrio superior dos Paços do Concelho, um conjunto de cinco pinturas da colecção particular de Armando Martins, um conhecido empresário de hotelaria e grande coleccionador de arte, natural do concelho. A mostra “Cinco Obras, Cinco Mestres” apresenta quadros emblemáticos de cinco reconhecidos mestres portugueses da pintura contemporânea (Júlio Pomar, Carlos Botelho, Almada Negreiros, Hogan e Manuel Cargaleiro) que qualquer museu nacional ou estrangeiro não desdenharia possuir no seu acervo.

De Carlos Botelho, também conhecido como o pintor de Lisboa, os apreciadores poderão ver o “Pátio de D. Fradique”, datado de 1946, um trabalho que se situa na segunda fase de pinturas de Lisboa. Esta tela caracteriza-se por uma pincelada expressionista, na qual as cores são dóceis e os contrastes pouco acentuados, não prescindindo, no entanto, dos seus singulares jogos de cor como estratégia de composição. Já “Meninas Sentadas Lendo” (1933), de Almada Negreiros, é um belíssimo exemplar da pintura de uma das figuras centrais do modernismo português. Não sendo considerada uma das obras-primas de Almada, revela, no entanto, uma estética expressionista, na qual o corpo é apresentado de forma esquematizada numa tentativa de adquirir a máxima expressão concentrada nos mínimos gestos. É um trabalho de extrema simplicidade formal e composicional, acentuada pela concentração de movimentos. A obra “Meninas Sentadas Lendo” foi exposta na importante mostra “Almada – A Cena do Corpo” que teve lugar no Centro Cultural de Belém em 1993. Mais conhecido é o quadro “Fernando Pessoa” (1985), de Júlio Pomar. Trata-se de uma das peças mais emblemáticas do pintor que pertence a uma série de retratos literários que Pomar realizou, com destaque para os retratos dos primeiros modernistas portugueses: Mário de Sá Carneiro, Santa-Rita Pintor ou Amadeo de Souza-Cardoso. Esta obra integrou a exposição “Um rosto para Fernando Pessoa – Obra de trinta e cinco artista portugueses contemporâneos” realizada no Centro de Arte Moderna (Lisboa), em 1995.

“Ponte sobre o Vale de Alcântara” (1951), de João Hogan, um grande apreciador da paisagem. A Beira Baixa foi um dos locais de eleição deste pintor, que encontrou nalgumas zonas de Lisboa, como o vale de Alcântara ou o aqueduto das águas livres, a mesma rudeza e vastidão caracterizadora da Beira. O quadro escolhido para esta exposição é, como a maioria das suas obras, marcado por uma construção formal muito planeada e rigorosa, onde a cor se apresenta como uma das suas principais preocupações. Há uma redução da paleta ao número de cores essenciais, e a construção da imagem é feita pelos jogos entre elas. “Ponte sobre o Vale de Alcântara” foi exposta na retrospectiva do pintor promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna em 1992. De Manuel Cargaleiro podemos apreciar “Le Retour d’Adonis” (1972), um trabalho caracterizado por uma composição de movimentos horizontais e verticais cortada por espaços de luz. A cor é, em Cargaleiro, o instrumento mais basilar de toda a sua obra, apresentando-se como uma linguagem que expressa a interioridade do pintor. A obra foi exposta na retrospectiva do pintor da Fundação Calouste Gulbenkian no Verão de 1984.

Luis Martins

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