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Os camaleões “independentes”

O socialista Pina Moura assumiu a presidência da Media Capital, a empresa de media detida maioritariamente pelos espanhóis da Prisa, e que é dona da TVI. Em entrevista ao Expresso, o ex-ministro de Guterres assumiu que o convite dos espanhóis teve “motivação ideológica”, já que existe um “um corpo de valores” a defender. Ou seja, assumiu frontalmente que existe uma “motivação política” e que a sua aceitação do cargo teve “também esse pressuposto”.

As reacções politicas não tardaram colocando em causa a independência da TVI e criticando a apetência do Partido Socialista para o controlo da informação. Alguns especialistas da área mostraram a sua preocupação. O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres afirmou ao DN que “vamos assistir, na TVI, a uma luta entre liberdade de imprensa e condicionamento da informação, entre a liberdade e a censura”. Francisco Rui Cádima, professor do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, considera que a ida de Pina Moura (e do também socialista José Lemos) para a TVI “é perturbadora”. “Por muito que um grupo económico com ligações políticas tenha meios de comunicação, a última coisa que deve ser admitida é uma marca política na estratégia profissional”, sublinhou ao DN o especialista. Cádima avisa a ERC que “deve estar atenta” e considera que a declaração de Pina Moura a assumir a base ideológica da sua nomeação “é um erro tremendo” – “não é aconselhável ir por esse caminho”.

Eu, pelo contrário, admirei a frontalidade de Pina Moura e o assumir de um projecto ideológico. Estou farto da hipocrisia de certos meios de comunicação “independentes” que levam no logro o seu público, e o enganam nas entrelinhas, o condicionam na sua informação e desinformação, o envenenam nas abordagens inquinadas dos assuntos.

Escrevi n’O Interior em Outubro de 2004: «Gostaria que muitos jornais assumissem esta frontalidade. Em vez de brincar às virgens, tornassem público aos seus leitores com quem vão para a cama. No fundo, tornassem transparente qual o código de ideias que advogam, qual o partido que apoiam, qual o autarca que defendem, qual o grupo de interesses que protegem».

Eu prefiro que um jornal, uma rádio, uma televisão, assuma que é socialista, comunista, social-democrata, a favor deste ou daquele autarca. Que assuma que defende este ou aquele valor, este ou aquele grupo de pressão. Os falsos “independentes” enganam os incautos que não conhecem as pessoas que estão por detrás dos projectos, que confiam na informação que lhes é transmitida, e que julgam ser correcta e equilibrada.

Existem projectos na nossa região que são verdadeiros camaleões, independentes encostados no poder das circunstâncias. No stress do dia-a-dia poucos têm tempo para descodificar os jogos de interesses nas entrelinhas das noticias, mas se estiverem atentos e por dentro dos assuntos encontrarão sempre a impressão digital de quem comanda ideologicamente a informação… Não assumir isso não é independência, é hipocrisia, é cobardia!

Por: João Morgado

Director Kaminhos.com

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