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«Os bombeiros estão como sempre estiveram: operacionais e preparados para dar resposta cabal às emergências»

Cara a Cara – Paulo Amaral

P – O que pensa das alterações feitas pelo Governo para combater os fogos este ano?

R – Havia que mudar alguma coisa. O cenário dantesco ocorrido em 2017 merecia que algo fosse feito em respeito e memória às vítimas. As medidas propostas pelos bombeiros, através da Liga, mereceram aceitação por parte do Governo. A saber: mais equipas de intervenção permanente (120) – criadas 78; equipamentos Individuais de proteção; aumento das gratificações aos bombeiros (o maior exército de voluntários afetos ao dispositivo) e a Liga participar a tempo e horas nas diretivas operacional e financeira são sinais evidentes de mudança. Também não somos alheios às alterações no que concerne a prevenção florestal, aos meios e mecanismo em uso.

P – No caso do distrito da Guarda, como estão as corporações de bombeiros?

R – As estruturas dos bombeiros estão como sempre estiveram: operacionais e preparadas para dar resposta cabal às emergências que forem aparecendo.

P – O facto de haver Equipas de Intervenção Permanente (EIP) em todos os concelhos é um bom princípio?

R – Sem dúvida! Constituem uma mais-valia para os concelhos que agora também se veem contemplados por essas equipas, num reforço da eficácia no socorro e proteção civil. De salientar que, excetuando o concelho de Trancoso, contemplado com duas equipas – Trancoso e Vila Franca das Naves –, é necessário no futuro reforçar estas EIP também nos concelhos onde há mais do que uma Associação Humanitária de Bombeiros.

P – Quais são as principais carências nesta época de incêndios?

R – São a necessidade de renovação dos equipamentos individuais, a longevidade dos veículos de combate, a continuidade da melhoria dos apoios aos homens e mulheres que integram o DECIR (Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais), a necessidade de integração de um oficial de ligação emanado dos bombeiros e que a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) seja cada vez mais coordenação e não comandamento. Deixo aqui o meu sincero apreço ao comandante distrital, António Fonseca, pela forma cordata e profissional com que trata os comandantes e os bombeiros do distrito. Pessoalmente, parece-me que a reforma da floresta deveria ter em conta as dificuldades que o interior e os proprietários (população envelhecida) atravessam, dando-lhes incentivos para cuidar e prevenir.

P – Está à espera de uma época tão difícil como a do ano passado?

R – Espero sinceramente que não. Espero que as medidas tomadas, e a tomar, na planificação e na sensibilização tragam frutos. Mas espero sobretudo, pese embora a área que possa arder, esta não seja acrescida com vítimas humanas, já basta para a história do país.

P – Na sua opinião, o que é preciso fazer para que os incêndios não sejam tão devastadores como têm sido?

R – É preciso reforçar a vigilância, os meios, mais e melhor informação (meteorológica e outras), mais eficácia nas comunicações como o SIRESP-GL e sobretudo a coordenação serão fatores de melhoria da eficácia. A consciência cívica e a responsabilidade social são também fatores a ter em conta, já que nós, bombeiros, estamos preparados.

P – O relatório sobre a tragédia de Pedrógão revela desorganização, falta de meios e falha nas comunicações. Há demasiadas entidades a atuar em caso de incêndio? O que é preciso corrigir para um combate mais eficaz?

R – É necessário que as forças de segurança da Proteção Civil interajam entre si e sejam coordenadas de forma a evitar casos como aquele a que se refere. A ligação do oficial de ligação trará ao teatro operacional a fórmula mais adequada no comandamento. É também preciso mais e melhor prevenção e ainda um contínuo incentivo aos bombeiros, que dão sempre o melhor de si. “Não sabemos se regressamos, mas vamos”, é o nosso lema.

Perfil:

Presidente da Federação de Bombeiros da Guarda

Naturalidade: Mêda

Idade: 54 anos

Profissão: Consultor/ formador

Currículo: Mestre em Sistemas de Informação Geográfica (SIG) pela UBI; pós-graduação em Termalismo na UBI. Adjunto do presidente da Câmara da Mêda de 1994 a 1998, ano em que assumiu o lugar de vereador em regime de permanência. Permaneceu nesta função até 2009 com os pelouros de Termalismo, Turismo, Feiras e Mercados, Património, Ambiente, Espaços Verdes e apoio à presidência. De 2001 a 2009 foi presidente do Conselho de Administração da ADL- Águas de Longroiva, Empresa Municipal e diretor executivo das Termas do Cró (Sabugal). Frequentou uma pós-graduação em Administração e Políticas Públicas na Escola Superior de Altos Estudos do Instituto Superior Miguel Torga (Coimbra).Desde 2006 que é presidente da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Meda, tendo sido eleito, em 2015, presidente da Federação Distrital dos Bombeiros da Guarda. É ainda primeiro secretário da Assembleia-Geral da Liga de Bombeiros Portugueses.

Livro preferido: “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry

Filme preferido: “Match-Point”, de Woody Allen

Hobbies: Conviver com os verdadeiros amigos

Paulo Amaral

Sobre o autor

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