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Os antílopes

Saliências

Vem-me esta ideia das pessoas que tudo temem, que chegam ao médico antes da doença, que consomem a dor com o pânico. Há muita gente perdida nos ansiolíticos, carregando olhares amedrontados, vivência de vítima. Há pessoas que percorrem a cidade como os antílopes, de forma medrosa, olhando aqui e ali, buscando lugares onde os predadores os não consumam. Mas os ataques são sempre repentinos, os felinos estão sempre emboscados, os acidentes não escolhem hora. Os antílopes refugiam-se nos seus silêncios, nas suas faltas de opinião, nas suas incríveis cedências.

Felinos são os que as atacam, os que as atropelam, aqueles que lhes roubam o lugar, os que as filmam feridas, os que as exibem para seu benefício, os que as mordem quando vão feridas, os que lhes pedem votos com discursos vazios, os que lhes cobram trabalhos adiados, os que lhes prometem e não cumprem. Há ainda antílopes que por vezes são felinos. Também há tubarões sempre prontos a morder a cada passo no charco. Basta uma distracção e zás lá está o bicho mordido e outro a morder. A vida faz-se de dentadas constantes.

Por: Diogo Cabrita

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