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Os amanhãs que cantam

Editorial

1. Depois de 51 dias, a maior parte deles de grande indefinição política, ficou a saber-se que o novo primeiro-ministro é António Costa. O líder do PS foi terça-feira de manhã a Belém, encontrar-se com Cavaco Silva (já lá tinha estado na véspera) e pouco depois o Presidente da República anunciava que o tinha indigitado primeiro-ministro, com a incumbência de formar governo. Não tardou, e já era conhecida a lista do novo executivo, o que demonstra como o secretário-geral do PS tinha a convicção há alguns dias da sua indigitação. Afinal, depois de tanta agitação e nervosismo aconteceu o que há algumas semanas se previa, António Costa irá governar com o apoio no Parlamento dos partidos de esquerda e, mesmo sem grandes contratos e compromissos, não tenhamos dúvidas, o governo do PS irá durar mais do que muitos imaginam, ainda que, porventura, menos do que aquilo que a esquerda unida agora anuncia.

O governo de António Costa terá a hercúlea tarefa de, sem pôr em causa os objetivos orçamentais, conseguir confirmar algumas das principais promessas da esquerda, em especial as referentes à dignificação das pessoas e das suas condições de vida, ao combate à precariedade, ao aumento do salários e pensões, à descida de impostos ou às reformas tão esperadas. Mas também se espera que olhe para o país como um todo, que procure a coesão territorial, de que o PS sempre foi um arauto, nomeadamente quando defendeu uma fiscalidade pelo interior. E promova o desenvolvimento territorial. Na Guarda, por exemplo, não devemos esquecer que o PS exigiu, e deve continuar a exigir, a concretização da Fase II do Hospital, e se manifestou pela defesa da redução do custo das portagens nas autoestradas A23 e A25.

2. Há duas semanas antecipámos (em exclusivo) a notícia do encerramento da loja das Beiras e Serra da Estrela em Salamanca. Ao que parece, muita gente terá ficado surpreendida, inclusive alguns dos envolvidos. A loja, que pretendia ser um posto de turismo e promoção da região, que antes estava na Plaza Mayor e agora tinha sido trasladada para a calle Zamora, à procura de impacto, passou a ser financiada pela CIM, supostamente para ser devidamente dinamizada. Custou em menos de um ano 100 mil euros, e fracassou. É extraordinário que, meia dúzia de meses depois de abrir, o que era suposto ser um projeto ambiciosos de promoção regional em terras espanholas encerre – numa cidade que é o primeiro mercado externo da região, que recebe anualmente milhões de visitantes e que tem milhares de estudantes espanhóis e estrangeiros. E é impressionante como ninguém se mostra estarrecido por este fracasso, que nenhum presidente de câmara defenda um projeto que devia ser uma alavanca, uma lança em prol da região (ao que parece, apenas Batista Ribeiro e António Robalo defendem a aposta, por serem os autarcas de Almeida e Sabugal, mas também porque sabem o quanto a região poderia lucrar se mais espanhóis a visitassem). E mais impressionante é que quando se procuram responsabilidades para o fracasso, todos apontem o dedo ao diretor da loja. Rui Quinaz pode não ter conseguido imprimir as dinâmicas desejadas, mas primeiro seria necessário conhecer o caderno de encargos e o plano definido. E era importante saber quem o definiu. Quais eram os objetivos (que não terão sido cumpridos)? Era uma loja de souvenirs ou um posto de turismo? Quem planeou?… A CIM revelou mais uma vez falta de liderança e falta de sapiência, financiou um projeto para alavancar o turismo da região e falhou por manifesta incompetência. Aliás, a questão é saber o que é que, dois anos depois, a CIM fez em prol do desenvolvimento da região: gastou 100 mil euros em Salamanca para fechar as portas alguns meses depois; pagou 70 mil euros na FIT para custear um mega stand sem interesse estratégico algum e que não deixa nada para a posteridade; gastou outro tanto (diz-se) no cofinanciamento do stand do Turismo do Centro na BTL sem conseguir promover a Serra da Estrela, quanto mais os demais concelhos que a integram…

Luis Baptista-Martins

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