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Os 70 anos do Rocha velho e os 50 anos do novo Rocha

Agora Digo Eu

Foi no sábado passado que os antigos alunos e professores se reuniram no seu já habitual convívio anual.

Muitas gerações passaram desde os longínquos anos 30 até 1994, altura em que o Rocha encerrou portas, enquanto colégio. O projeto do Colégio de S. José tem início em 1932 com o nome Colégio Internato Académico. Funcionava numa casa, propriedade do Lar Sagrado Coração de Maria, na Rua Soeiro Viegas. Em 1935 ganha forma a ideia da construção de um edifício unicamente destinado ao Colégio Académico para em 1945 (alvará datado de 8/10/1945) o imóvel ser batizado com o nome de Colégio de S. José no preciso local onde hoje se situam uma série de blocos de apartamentos em frente ao monumento a Joaquim Alves Brás. O Colégio era um edifício em pedra, de arquitetura da época, a que o professor Messias Marques dizia que estava assente e firme como rocha (daí a alcunha ou sobrenome de Rocha).

A 25 de março de 1961 a tragédia bate à porta. Um incêndio destruiu quase por completo este magnífico edifício, salvando-se apenas o ginásio e a sala de estudo. Estes dois espaços foram posteriormente utilizados para instalar três turmas, enquanto as outras foram transferidas para as várias salas do atual Paço da Cultura. Os responsáveis não cruzaram os braços e em finais de 1961 adquiriram a Quinta da Senhora do Mileu, projetaram o novo edifício, entrando este em funcionamento no ano letivo 1964/1965. O atual colégio, tal qual está, deveria servir apenas para externato, havendo um outro projeto, que nunca foi concretizado, que contemplava uma segunda construção, em toda idêntica à existente, ficando ambas ligadas por uma galeria de comunicação.

O Rocha, com ensino de qualidade e considerado a nível nacional como um colégio de referência, foi um projeto iniciado por Homens que marcaram a História da cidade, da região e do país. Dr Joaquim Bernardo, Coronel Orlindo de Carvalho, Augusto Bernardo Marques, de alcunha “o cartucho”, os cónegos Messias Marques, Álvaro Quintalo, Carvalho Dias, os padres Alberto Gonçalves, Zeferino Rabaça Roque, Manuel Silva Ferreira, Gonçalves Leitão, António Joaquim Marques, José Júlio, Saraiva de Melo, os irmãos Queijo Cabral, António Manuel Pires, Joaquim Martins, “O calhordas”, Octávio Morgadinho, Bernardo Terreiro do Nascimento, o meu saudoso tio, Manuel Freire, António Borregana, António Crespo, o capitão Orvalho, os engenheiros Manuel Cerca e Almiro Lopes, os professores Loriente, Mário de Carvalho, José Marques da Fonseca, Francisco Queiróz, António Queiróz, Joaquim Crespo de Carvalho, Fernando Rodrigues, a ajuda de Ana Verde, Joaquina Rente, Otília de Jesus, Hortência Seixas, Miraldina Gomes, a simpatia das “irmãs” Prazeres e Mesquita e isto sem esquecer o homem dos sete ofícios David Ferreira da Silva e (se calhar) mais alguns que a minha pesquisa histórica não contempla e aos quais obviamente só posso pedir desculpa.

É, no entanto, a figura de Álvaro Quintalo que ainda hoje (quase) todos nós, seus alunos, tratamos por “Ti Cónego” que marca inúmeras gerações graças à sua providencial capacidade de ensinar, o que tanto nos ajudou a ser homens, ser responsáveis, a afirmarmo-nos na sociedade. É por isso mesmo que em meu nome, e tenho a certeza que em nome de milhares de colegas, posso afirmar e escrever “Bem-haja, Cónego Álvaro Quintalo”.

No início de 2003, a Câmara Municipal da Guarda aprovou, por unanimidade, uma proposta para que o busto de Álvaro Quintalo fosse colocado provisoriamente no sítio onde ainda hoje se encontra, passando a constar no processo de toponímia a promessa (é sempre bom relembrar os políticos – atuais detentores do poder) que a rotunda dos 5 F’s (antiga “Ti Jaquina”) seria batizada com o nome do nosso diretor. Assim não foi entendido e, afirme-se, em abono da verdade, que o local onde se encontra, não é decididamente o melhor. É um ponto de passagem, junto a uma rotunda, necessitando de serem criadas condições para que o Cónego Álvaro seja tratado com a dignidade e lealdade de que ele próprio foi exemplo máximo. A Assembleia Geral da Associação do Rocha aprovou, por unanimidade, propor à Câmara que o busto deve ser transferido e colocado no jardim, mesmo em frente ao Colégio de S. José.

Relembrar ainda a justíssima homenagem que a Associação dos antigos alunos decidiu este ano levar a efeito ao professor padre Bernardo Terreiro do Nascimento, com a provecta idade de 94 anos, também ele, verdadeira marca de referência deste meio século do velhinho Rocha.

Termino a crónica de hoje com a convicta certeza: Os Rochistas, como gostamos que nos chamem, decididamente mantemos e manteremos o eterno compromisso tão bem espelhado no hino do Colégio: “O nosso lema é/ Ter vontade forte/ Imitar a S. José/ Procurar a luz/ Não fugir à dor/ E viver o verdadeiro amor”.

Por: Albino Bárbara

Comentários dos nossos leitores
António Ribeiro a.brito.ribeiro@gmail.com
Comentário:
Fui aluno do Rocha de 1960 a 1965. Frequentava, à data do incêndio, o antigo 2 ano. Tínhamos iniciado as férias da páscoa no dia anterior ao incêndio. Todos os meus pertences e livros lá arderam. Passámos depois a dormir no seminário diocesano, a assistir à missa e terço, bem como a estudar e alimentar-nos no que restava do velho Rocha e ir às aulas no atual Paço da Cultura. Foi um período complicado, sobretudo para os mais jovens. Chegava a gelar-me a água no cabelo, de manhã, no percurso do seminário para o colégio. Continuei aluno interno quando da inauguração do “Rocha” novo, frequentava na altura o 5º ano. Foi um ano complicado, pois parti a perna a jogar a bola no campo do colégio. Recordo o Sr. cónego Álvaro a levar-me no calças (Citroen 2 CV) para o hospital, onde fui operado. Saí do “Rocha” no final desse ano letivo. Muitas peripécias ocorreram durante esse período, que são agora boas e saudosas recordações. Devo muito do que sou às pessoas que dirigiam o colégio, bem como a alguns dos colegas com quem partilhei o meu tempo de internato e estudo. Um “bem haja” a todos. António Ribeiro
 
rochista a@j.com
Comentário:
Oh mocidade, canta, canta…
 

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