Não posso deixar de aproveitar a época de candidaturas para a Ordem dos Médicos para recordar e explanar ideias, histórias e falhanços graves da estrutura de que sou sócio por imposição do Estado e convicção da sua importância. Uma Ordem serve a causa de um grupo profissional, recebendo do Estado algumas tarefas que lhe ficam legadas para melhor articulação profissional. Há um conjunto de funções do Estado que assim são entregues aos profissionais.
Os médicos têm uma Ordem poderosa do ponto de vista financeiro e organizativo. È uma Instituição respeitável e necessariamente a preservar pela classe. A Ordem tem funções científicas, funções deontológicas e disciplinares. Também nos representa pelo mundo fora.
Mas a nossa Ordem tem tido um percurso paupérrimo nos últimos anos da sua existência. Um grupo que a gere há 12 anos deixa-nos num ponto de difícil recuperação. Aviltaram-se princípios para proteger empregos, criaram-se nichos de habilidades para fazer estradas de enriquecimento, mantiveram-se apoios a quem nada engrandecia a profissão, promoveram-se medíocres que espalham a sua inadaptação ao mundo moderno.
Que quer isto dizer?
Que a liberdade dos novos médicos não foi acautelada, que as convenções ficaram sem negociação e sem atributo livre, que as restrições à prática multidisciplinar trouxeram restrições de emprego e frequentemente inibição de actuação aos médicos. Os seguros puderam criar os preços que bem lhes apeteceu nos valores de K e ninguém se atravessou no seu caminho. O ensino médico ocorreu independente da Ordem que o devia acautelar.
Os Internos Complementares perderam todos os direitos e caiem agora nos braços de Hospitais SA que decidem valores desprezíveis salariais para quem tem preparação sofisticada e cara. Há 10 anos os Internos tinham vínculo á função pública, horário em exclusividade, 42 horas. Hoje não têm garantia de emprego no dia seguinte à sua formação, não têm vínculo, são pagos em regime de 35 horas para horário de 42. Este é o legado de Pedro Nunes para os médicos jovens. O seu curriculum nas causas médicas é indiscutível e por essa razão é imperdoável. Ele estava lá, em tudo e em todos os lugares, representando sindicatos, colégios, secções, negociando em nosso nome e levando a nova geração médica ao abismo. Até Outubro temos de prestar contas com o passado e por isso algumas crónicas serão inteiramente dedicadas ao mundo da Saúde.
Por: Diogo Cabrita