Já abordámos nesta coluna o oecus triclinium, ou seja, o compartimento em habitações nobres, de período romano, cuja finalidade seria servir refeições. Foi referido pelo facto de os exemplares conhecidos possuírem aberturas para o perístilo.
De facto, sendo uma área eminentemente de carácter social, onde o proprietário recebia os seus visitantes, era aqui que se concentravam os elementos de carácter sumptuoso, permitindo ao proprietário exibir o seu nível socio-económico.
Os oecus triclinia conhecidos, através de escavações arqueológicas, possuíam no pavimento mosaicos coloridos, construídos por operários especializados. As paredes eram decoradas com estuques pintados e as janelas abriam-se sobre belos jardins. Era de facto um dos espaços mais importantes da habitação nobre, quer fosse em ambiente urbano, quer rural.
Este facto vem demonstrar a importância do ritual da refeição no mundo romano. De tal forma que Vitruvio define as medidas que estas salas devem possuir. Por norma, eram construídos no fundo do eixo de maior dimensão da habitação.
Em algumas domus de Conimbriga o oecus triclinium ocupava o piso inferior, juntamente com o perístilo, denunciando a existência de outro piso, mais reservado, onde se localizavam os restantes compartimentos. Através destes espaços, no primeiro piso, com tais dimensões, permite-nos compreender a sua importância na sociedade romana.
Nesta sala eram colocados conjuntos de três leitos, marcados no pavimento, onde se reclinavam os comensais. Sem dúvida o lugar que cada um ocupava nesta sala encontrava-se relacionado com o seu lugar na sociedade.
E na Beira Interior, será que as indicações de Vitruvio foram respeitadas? Tendo em conta alguns materiais arqueológicos encontrados na estação arqueológica da Póvoa do Mileu (Guarda) somos tentados a responder afirmativamente. De facto entre os materiais encontrados salientam-se os frisos em mármore, uma estátua de mármore, canalizações, colunas feitas a partir de tijolos, entre outros. Todavia, estes materiais surgiram sem um contexto arqueológico e não sabemos a que compartimentos pertenceriam.
Neste sentido, apesar de nesta área terem sido identificados alguns elementos que demonstram um estatuto elevado dos proprietários de sumptuosos edifícios, ainda não foram detectados mosaicos do período áureo do Império. Será pela sua inexistência ou porque ainda não foram detectados? Teremos de aguardar por intervenções arqueológicas na Beira Interior para podermos responder.
Por: Vítor Pereira