O Observatório de Ornitorrincos é um espaço cívico plural, magnânimo, grandiloquente e sobretudo humilde. Não é lugar de nenhuma afirmação eleitoral. Aqui não cabe nenhuma candidatura. Bem, na realidade, cabem todas, que elas são todas tão tendencialmente nulas, que qualquer nesga de papel serve para apresentar as ideias dos seis candidatos e ainda sobra espaço para os tipos que não entregaram as assinaturas a tempo e horas. É desta forma descomprometida com todos os candidatos, mas também com todas as mulheres do mundo, que o Observatório de Ornitorrincos se orgulha de esclarecer o leitor com a apresentação do
Guia eleitoral para as presidenciais de 2006
Aníbal Cavaco Silva
É tido como o candidato da direita, mas passou a campanha a lembrar que era social-democrata, como tinha ficado claro durante dez anos. É apoiado por dois partidos. Um que conhece e o outro, que aparentemente também não são de direita. Fez cara de fantasma quando ouviu falar na ressurreição de Santana Lopes.
Manuel Alegre
Personagem fictícia de um romance medieval, simultaneamente cavaleiro e jogral, sente-se ao serviço das boas causas quixotescas, em defesa das donzelas e das injustiças, contra os xerifes de Nottingham que perturbem a paz do reino. É apoiado por um cantor com nome de um jogo de arcade do século passado e uma escritora de romances com títulos como Fazes-me Falta e O Melhor é ir Ver se Já Chove.
Mário Soares
Soares decidiu avançar quando viu uma publicidade onde uma velhinha ganha uma corrida a Obikwelu e pensou que também ele, com a mesmo idade, poderia ganhar eleições a Cavaco e a Alegre. Nesta campanha descobriu-se que Soares usa cuecas. Soares garante que os jornalistas nunca gostaram dele. Afinal foi sempre apenas sexo, nunca existiu amor.
Jerónimo de Sousa
Antigo operário, é o único conhecido pelo primeiro nome, com a característica versátil de eu próprio o utilizar, embora só depois de todos os outros. Refiro-me ao nome, claro, porque um candidato comunista versátil seria uma contradição tão grande como “nova Lili Caneças” ou “Morangos com Açúcar para pessoas normais”.
Francisco Louçã
Tem ar de frade, fala como um bispo, tem a infalibilidade do Papa. É anti-religioso. É apoiado por um partido que mais parece o cubo mágico. Cada pecinha tem uma cor, pode rodar-se em várias direcções e não é nada fácil de conseguir pôr as peças da mesma cor todas viradas para o mesmo lado.
António Garcia Pereira
É o candidato com nome mais aristocrático – ao contrário de Cavaco, só é reconhecido quando os apelidos são ditos em conjunto. Talvez por essa razão é aquele que se apresenta mais à esquerda, partidário da revolução. Garcia Pereira, que já se candidatou a cargos políticos tantas vezes como os outros cinco todos juntos, está na campanha também para apelar à renovação da classe política em Portugal.
Nota
A ordem dos candidatos é a mesma dos boletins de voto, com algumas alterações introduzidas por razões pessoais.
Por: Nuno Amaral Jerónimo