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«O Zézito é um homem do interior e é natural que tenha um olhar especial para esta região»

Cara a Cara – Entrevista

P – Alguma vez pensou que o seu filho, José Sócrates, viesse a ser o Primeiro-Ministro de Portugal?

R-Comecei a pensar nisso quando ele resolveu candidatar-se a secretário-geral do PS. Nessa altura acreditei que ganharia as eleições para esse cargo e que seria Primeiro-Ministro. O meu filho sempre teve grandes capacidades políticas, académicas e culturais. É capaz de desempenhar este cargo com eficácia.

P – É um pai orgulhoso?

R – Muito orgulhoso.

P-É um social-democrata convicto, apesar de já não militar no PSD. Votou no seu filho nestas eleições?

R-Claro que sim. Também porque ainda não encontrei nenhuma diferença séria entre o socialismo, a que chamam de socialismo humanista, e a social-democracia, que também é humanista. Talvez pelo facto do socialismo implantado por Mário Soares ter um pendor social ligeiramente maior que no PSD. Esse é o único aspecto. Acho que se tem que fazer reformas e privatizações, mas não a torto e a direito. Tem que se privatizar aquilo que pode funcionar no mercado como a alavanca na economia nacional, mas as grandes questões, como a saúde e a justiça, devem continuar sob a tutela do Estado. Infelizmente, estávamos a assistir a quase uma privatização de todos esses organismos. Chegamos quase a uma triste conclusão, de se vender o património por causa da cobertura do défice, como por exemplo o Instituto do Vinho do Porto e o Instituto da Vinha e do Vinho, que foram edifícios construídos à custa da lavoura. Isso parece-me que seria uma medida desastrosa e nada consistente com o espírito de uma verdadeira social-democracia.

P-Como comenta estes resultados que o seu filho teve em todo o país, especialmente no distrito e no concelho?

R-Do meu ponto de vista, o povo português convenceu-se da mensagem do PS. É realmente um projecto que poderá conduzir à salvação do país, que está um caos em todas as liturgias: a economia está de rastos, as empresas estão descapitalizadas e em termos sociais as coisas estão más. Esperava-nos, com este caminhar, um futuro pouco risonho. O povo, na sua sábia sabedoria, entendeu que a mensagem tinha alguma esperança e votaram nela. A confiança que o povo deu ao Zézito, como é tratado no seio familiar, e ao PS nesta eleição excedeu todas as expectativas com uma votação histórica. Isso aumenta efectivamente a responsabilidade do líder do futuro governo. Mas o meu filho tem uma força e uma resistência muito grande, e uma formação capaz de vencer grandes obstáculos, como já demonstrou nesta campanha. Por isso, estou convencido que agora irá juntar a essa força, a força moral da vontade dos portugueses, que agora têm o direito de exigir medidas a justificar esta confiança que depositou nele. Quanto ao distrito de Castelo Branco e ao concelho da Covilhã, os resultados justificam-se pela intervenção que o meu filho teve enquanto ministro do governo de Guterres. A mensagem foi atendida agora, porque o Zézito já tinha dado provas da confiança dos eleitores, ao concluir a A23 e a implementar a Faculdade de Medicina, por exemplo.

P – O que gostaria que o seu filho fizesse pela Covilhã e pelo interior do país?

R – Ele é um homem do interior. Nasceu em Vilar de Maçadas, aldeia de Trás-os-Montes e Alto Douro, perto de Alijó, e viveu a infância e juventude na Covilhã. É natural que tenha um olhar especial para com o interior do país, sem detrimento do seu todo. Por isso, acho que é urgente concluir três projectos essenciais: o Regadio da Cova da Beira, a electrificação da Linha da Beira Baixa até à Guarda e a ligação da Covilhã a Coimbra. E cito mais uma: a despoluição das ribeiras da Goldra e da Carpinteira, que já deveria estar a ser feita. Não é embelezá-las com lindos Polis sem se tratarem do essencial, nomeadamente a construção da ETAR. As ribeiras continuam poluídas, a receber os dejectos das casas e das fábricas, que estão a transformar o Rio Zêzere numa verdadeira miséria.

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