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O voo final

Bilhete Postal

Um doente de Valença por quem tenho uma especial simpatia ofereceu-me uns pássaros exóticos e eu, num rasgo de loucura, aceitei. Aceitei por ele e pelas aves giríssimas. Ele há a psitacose, a gripe das aves, as alergias provocadas por viverem perto, e apesar de tudo a sua beleza encantou-me. Era um casal de “diamantes de gold” lindo nas suas muitas cores. Vinham numa gaiola pequena e fui buscar uma maior. Depois arranjei mais três aves de novas cores. Um espaço de mais de 1 metro e várias alegrias para os ver voar. Quem não sabe é como quem não vê e desse modo a armação era um pouco larga. O de cabeça vermelha encontrou o espaço entre a porta e a parede e voou. Um voo para a liberdade total, para a alegria de soltar as asas bem abertas e percorrer os galhos que por aí encontrará. Indiferente à falta de comida apropriada, à presença de predadores, à ausência de amigos, ele foi passear a sua cabeça vermelha pelo mundo. Imagino que tenha sido feliz enquanto durou. Imagino-o a sorrir por entre arbustos e árvores. Ver o céu lá bem de cima, lá do alto em voo planado, depois descer fechando as asas numa queda louca, perto do chão abrir de novo e subir rápido no ar. Parar depois para descansar, que os treinos de gaiola foram poucos. A liberdade compensará tudo? A segurança, a riqueza, a companhia, o conforto? Ou haverá tudo isto na alma da própria liberdade, mesmo que fique a minutos do fim? Um alívio total, um infinito de probabilidades na liberdade que com pensem tudo? A palavra, ou o seu significado dentro de nós, tem isto tudo dentro? Aquele fugitivo é o pássaro de que mais gostarei sempre. E se voltasse com fome seria impossível estar numa gaiola outra vez. Aos outros comprei uma gaiola ainda maior e serão 8 para serem felizes sem liberdade… se é que isso existe. E por razões que também desconheço, por associações que nos surpreendem isto me lembra Cuba – a Ilha de Fidel.

Por: Diogo Cabrita

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