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O verão é assim…

Editorial

1. Chegou a “rentrée” com uma voragem que estropia as melhores recordações das férias. Podemos ainda estar baralhados com o calor, mas é bom que olhemos de frente para a realidade: afinal, continua a não haver vida para além do défice. Ou pelo menos, por muito que António Costa nos mostre o melhor dos sorrisos, as notícias do fim do verão arrasam com as melhores expetativas e deixam-nos receosos.

Portugal continua a ser um país adiado, onde por momentos acreditámos poder viver melhor. Um país que não consegue sair do pântano, que, desde que António Guterres partiu, vive entre pequenas euforias e longas depressões, mas sempre na eminência de que o dia seguinte pode ser pior do que o anterior. Um país onde, muito para além da demagogia política e a conversa de entreter, nunca ninguém está propriamente preocupado com o facto de gastarmos mais do que aquilo que produzimos. Se o regresso das 35 horas semanais foi um erro, a incapacidade de controlar a dívida e algumas reversões apressadas podem ameaçar o futuro. Enquanto ambicionamos, justamente, aumentar o salário mínimo, encontramos entraves e dificuldades que fragilizam a economia e debilitam as finanças públicas.

Mais do que discutir o défice (que é assunto que tem dominado a agenda portuguesa dos últimos 15 anos) devíamos estar a discutir o investimento, as grandes opções do país, as escolhas para o futuro, os caminhos que nos podem tirar do «pântano» em que vivemos. Mais do que nos limitarmos a discutir o défice, deveríamos discutir como é que é possível que a dívida continue a crescer e tenha ultrapassado os 130% do PIB, transformando-a num buraco gigantesco que obviamente nunca poderá ser paga. Depois de anos de sacrifícios, mas com a dívida sempre a aumentar, o que deve Portugal fazer para parar de engordar o monstro? Enquanto olharmos resignados para tudo isto, o país não muda; enquanto aplaudirmos a despesa pública sem desenvolvermos a economia e promovermos a competitividade, a produtividade e o emprego ficaremos mais pobres; enquanto gastarmos dinheiro a fazer rotundas e festarolas não trilharemos novos caminhos de sucesso; enquanto não mudarmos as opções e apostarmos no desenvolvimento, não haverá progresso; enquanto escolhermos o caminho mais fácil, tudo será mais difícil; enquanto gastarmos à tripa-forra… não haverá futuro. Enquanto andarmos a pagar o circo sem nos importarmos de pagar mais impostos estamos condenados. É urgente que o cidadão tome consciência da realidade, do atoleiro de dívida em que vivemos, da despesa que não para de aumentar, do verdadeiro regabofe com o nosso dinheiro. É tempo do cidadão exigir moralização na coisa pública.

2. Os Passadiços do Paiva foram um dos premiados da edição de 2016 dos World Travel Awards, que, considerados os Óscares do Turismo a nível mundial, distinguiram o projeto de Arouca como o mais inovador da Europa. Inaugurado em junho de 2015, esse percurso pedonal estende-se por oito quilómetros ao longo das margens do Rio Paiva, veio permitir a visita a áreas de escarpa antes intocadas pela presença humana e confirma-se que uma boa ideia pode impor-se como uma referência internacional, apesar da sua interioridade, das idiossincrasias de contexto e distante de Lisboa. Numa área classificada pela Unesco, que é um recurso até há pouco tempo inacessível e que passou a ser um polo aglutinador de uma oferta turística de relevância mundial, ligada aos recursos naturais. São ideias como esta, atrevidas e genuínas, que necessitamos para contrariar a falta de investimento e o ostracismo a que foi votado o interior.

Luis Baptista-Martins

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