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O valor da industria

Editorial

Nas últimas edições de O INTERIOR apresentámos dados sobre exportação e importação da região.

Contrariando a ideia de que as empresas do interior são pequenas, produzem pouco e não têm capacidade de vender no estrangeiro, encontrámos um volume de negócios muito razoável e até superior a outros concelhos (e distritos) com circunstâncias similares aos nossos. Mas o que mais terá surpreendido os nossos leitores foi o facto da Guarda, tantas vezes referida como vivendo apenas de serviços, ser o concelho com maior volume de negócios com o exterior da CIM Beiras e Serra da Estrela: as empresas do concelho importam 220 milhões de euros e exportam 205 milhões. E destacámos, na última semana, que só a Coficab, empresa instalada em Vale de Estrela, com 150 milhões, exporta sozinha quase tanto como todas as empresas do concelho da Covilhã – o segundo concelho com mais exportações na região 167 milhões e mais importador com 72 milhões. A relação não é objetiva nem relevante, mas é valorizada editorialmente por existir uma perceção errada na generalidade das pessoas em relação à realidade empresarial e exportadora por concelho na região. Como atrás se refere, o concelho da Guarda desde que a fábrica Renault encerrou deixou de ser visto como um concelho industrial, e nem mesmo quando a Reicab, primeiro, e a Delphi, depois, se instalaram nos pavilhões da marca francesa produzindo e exportando milhões em cablagens e empregando mais trabalhadores do que qualquer outra fábrica da região, a cidade mais alta mereceu o epíteto de urbe industrial. Se não há dúvidas sobre a relevância do sector dos serviços, a verdade é que na Guarda, mesmo depois do encerramento da Delphi, ainda existem empresas produtoras e com grande peso no PIB regional. Para além da extraordinária performance da Coficab, para o volume elevado de importações e exportações no concelho da Guarda contribuem sobremaneira industrias como a Dura Automotive e a Sodecia, além de outras fábricas com menos pesos nas relações comerciais com o exterior, mas igualmente relevantes em termos regionais, como a Gelgurte ou a Têxtil Manuel Rodrigues Tavares.

Na região, e para lá da importante dinâmica da Guarda e Covilhã, são os concelhos de Seia, Fundão que também têm grande dinâmica exportadora. Belmonte continua a ter grande capacidade exportadora, enquanto Celorico da Beira e Foz Côa, surpreendentemente, são os concelhos da região que mais crescem na relação comercial com o exterior. A região é pobre e ostracizada, mas ainda há empresas com capacidade de crescimento e que podem gerar mais emprego (ainda que sejam multinacionais).

PS: Na semana passada referi aqui a provável eleição de Fernando Ruas, PSD, e que, sendo de Viseu, poderá ser um defensor do interesse da região. Acrescentei que os partidos têm poucos candidatos (naturalmente) das regiões menos densamente povoadas, referindo a presença de Rita Mendes (Aguiar da Beira), na lista do PS, e de Leopoldo Mesquita (Guarda) como cabeça-de-lista nacional do PCTP/MRPP. O Aires Dinis chamou-nos a atenção para o facto de Miguel Viegas, terceiro na candidatura da CDU ser da Corujeira (Guarda), se bem que o candidato diz sempre que é natural de Paris (veio para Portugal com 10 anos) e que vive em Aveiro, onde é professor de economia. Mas, de facto, não deixa de ser curioso que a CDU, além de Miguel Viegas, tenha na lista, também, Mário Martins (Guarda).

Luis Baptista-Martins

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