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O último “assalto” português ao Forte de la Concepción

Investidores querem comprar parte da fortaleza espanhola situada na fronteira para turismo cultural

Um grupo de portugueses está interessado em comprar as ruínas do Forte Real de la Concepción, em território espanhol, mas fazendo fronteira com Portugal, no concelho de Almeida, para aproveitamento em turismo cultural. «É uma provocação por uma boa causa», confessa Adriano Vasco Rodrigues, historiador e porta-voz dos empresários que já manifestaram um interesse «sério» por esta fortaleza do século XVII e solicitaram mais informações ao alcaide de Aldea del Obispo, município de Ciudad Rodrigo. Enquanto esses pormenores sobre um monumento considerado como Bem de Interesse Cultural pela Junta de Castilla y León não chegam, os portugueses esperam pelo menos ter contribuído para alertar os vizinhos para o «surpreendente» estado de degradação em que se encontra o imóvel.

A propriedade do Forte Real de la Concepción está disseminada por várias famílias, uma das quais terá posto a sua parte à venda. Uma vontade descoberta durante uma visita anódina ao local, situado a escassos 500 metros da fronteira portuguesa, nas proximidades de Vale da Mula (Almeida), quando os visitantes se depararam com uma placa “Vende-se”. «Ficámos intrigados, mas também chocados com esta situação de abandono e de esquecimento do passado histórico do local. Decidimos então tentar adquiri-lo e é isso que tencionamos fazer se houver essa possibilidade, porque a nossa intenção é séria e fundamentada», conta Adriano Vasco Rodrigues, ex-director da Escola do União Europeia de Mool (Bélgica). O objectivo é transformar a zona do forte actualmente à venda num pólo de turismo cultural e histórico, disponibilizando aos visitantes alojamento, espaços museológicos e de exposições sobre a história militar, mas também uma área para seminários, restauração e estruturas de apoio, como bar e postos de venda de produtos locais e alusivos à fortaleza. «Acredito que devidamente valorizado e musealizado, o forte poderá integrar os circuitos turísticos da região transfronteiriça», espera. Quanto aos investidores, o historiador explica que eles querem continuar por enquanto no anonimato, tendo delegado nele e em Paulo Ribeirinho, dono de um gabinete de projectos de engenharia civil do Porto, os primeiros passos do projecto. Contudo, não esconde que o grupo, que não exclui uma parceria com espanhóis, está motivado no investimento, desde logo porque alguns dos elementos que o constituem têm raízes no distrito da Guarda e, sobretudo, na zona fronteiriça do concelho de Almeida. A fortaleza foi construída sobre uma colina a 500 metros da fronteira nos últimos anos da Guerra da Restauração da independência portuguesa, na sequência da Revolução de 1 de Dezembro de 1640, de acordo com a estratégia do Duque de Osuma, espanhol, e do plano do engenheiro francês Simon Jaquet, «com a finalidade de arruinar a praça-forte de Almeida», explicou Adriano Vasco Rodrigues. Serviu de defesa contra os ataques portugueses e do exército francês em diferentes guerras até ser destruído pelas tropas espanholas aquando do seu abandono. O que aconteceu no período das Invasões Francesas, sendo desmantelado pelo exército comandado pelo general inglês Wellington por ter servido de base às tropas francesas para atacarem Almeida. O forte está actualmente abandonado, servindo o seu espaço para pasto e estábulo de animais, sendo ainda visíveis a praça de armas, baluartes, cavalariças, muralhas e portas fortes, entre outras estruturas.

Uma história por recuperar e contar, defende Adriano Vasco Rodrigues, para quem o monumento tem a particularidade de apresentar «todas as experiências, em várias situações, dos baluartes nos séculos XVIII e XIX na Europa». Uma singularidade que só por si deveria ser suficiente para que o Estado espanhol olhasse com outros olhos para este verdadeiro «livro aberto sobre as construções militares», refere o professor, que não esquece, por outro lado, que o Forte Real está «cheio» de memórias históricas para os portugueses. «Os espanhóis até contam que o sino do relógio do forte está em Malpartida, no campanário da aldeia, mas isso é a pequena história», adianta.

Luis Martins

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