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O sucesso das nossas iguarias

Editorial – Jornal das Empresas

A crise e a introdução de portagens nas autoestradas estão a fazer-se sentir por toda a região. Menor fluxo de pessoas, menos atividade económica e descida substancial de turistas que conduzem à mais baixa taxa de ocupação hoteleira dos últimos anos e, pior, à falta de visitantes na região. Os espanhóis, que sempre aproveitaram a Semana Santa para conhecerem as nossas vilas e cidades, para degustarem a nossa gastronomia, para passearem do lado de cá da fronteira, este ano vêm muito menos, nomeadamente por causa da introdução das portagens e, pior, pelo sentimento de complexidade em relação às mesmas (o pagamento de portagens para estrangeiros, que tem de ser feito na fronteira, é um verdadeiro quebra-cabeças). Assim, e para além das quebras de pelo menos dez por cento nas dormidas, temos os restaurantes vazios, lojas à espera que os clientes cheguem e a angústia de quem enfrenta cada vez mais dificuldades para sobreviver. O comércio tradicional, grosso modo, está moribundo.

Em contraste com o dececionante diagnóstico da vida comercial e da atividade turística, temos o crescimento de uma economia rural até há pouco tempo de cariz familiar e caseira: os produtos alimentares. Na região, há um crescimento extraordinário de produtores de iguarias do maior interesse gastronómico, mas também empresarial. Os enchidos, os queijos e os doces são hoje a grande aposta económica na região. A qualidade dos produtos, o sabor e o paladar, a aposta na apresentação e o esforço e profissionalização dos produtores e agentes envolvidos, permitem que as nossas iguarias acaparem cada vez mais atenção e apreciadores. Às caraterísticas intrínsecas juntou-se a visibilidade da Feira do Fumeiro de Trancoso, que é cada vez mais uma referência na estratégia de promoção, comunicação e comercialização dos produtos endógenos dos concelhos da Beira trasmontana. E é este o caminho. Produzir com qualidade e profissionalismo; promover e saber apresentar o produto; definir os mercados e conquistá-los. Não é um caminho fácil, mas é o caminho que muitos pequenos produtores de queijo, de salsicharia, de fumeiro, de tantos produtos que sempre se fizeram nas nossas terras e que só agora começam a apresentar-se ao mundo. Muitos já com sucesso. Outros a descobrir.

Luís Baptista-Martins

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