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O sonho americano

Saliências

Estou em Gailord Palms, na Florida, e queria comentar convosco o “american dream”. Orlando existe para satisfazer os consumidores e por essa razão fascina os grandes e os pequenos. O hotel onde estou instalado oferece uma rede de Internet gratuita, piscinas, ginásio e muitos outros serviços, preocupa-se com a satisfação do cliente. Podia ser pouco e podia não nos trazer de volta. Ora o “american dream” é enriquecer, produzir dinheiro, muito dinheiro. Ontem jantei na Disney e serviram-se mais de 500 jantares, como todas as outras noites, por 100 dólares cada, sem vinho. São 50 mil dólares por dia o que perfaz 500 mil cada dez dias. Toda a dimensão de Orlando está aqui. 60 dólares para qualquer parque temático, comida em todo o lado, obesidade a oito por cento do que a vista alcança. São pessoas de 200 quilos para mais. Há os que são brancos, outros amarelos e ainda índios e pretos. A obesidade, como a estupidez, não escolhe cor ou religião.

Esta dimensão de tudo impressiona. Há piscinas com navios dentro, áreas fechadas que são cobertas por estruturas metálicas e vidro onde cabia a Praça da República em Coimbra. E estradas enormes para todo o lado e carros luxuosos ao preço da uva mijona, e “outlets” e hipermercados, e revenda e venda e tudo ali a comprar e a comer. No meio desta loucura preservam-se os pequenos jacarés, que não podem ser alimentados pelos humanos de modo nenhum. Assim não há conversa, eles andam nos lagos mas se os virmos não damos confiança e eles também nos ignoram. E depois há cães que não nos mordem, que não refilam uns com os outros. Também não há adeptos a atirar telemóveis para o campo de futebol. Os horários de trabalho cumprem-se, os direitos exercem-se, a segurança e a higiene não são palavras vãs. Este país não tem nada a ver com aquilo que dizemos dele e sobretudo a sua dimensão está num parâmetro que permite ignorar o que dizemos. Mas essa não é uma verdade para a Franca, Inglaterra e Alemanha.

Outro facto interessante foi ontem a capa dos jornais falar do Iraque e da votação enorme do povo iraquiano que assim desafiou os prognósticos de muitos esquerdistas. O povo foi lá pôr o voto contra tudo e todos apesar das bombas e das ameaças. Grande vitória para Bush e América. Era assim que estava a coisa no “USA Today”. E na América há mesmo um sonho – o de vencer em grande. Construções a perder de vista, parques lindíssimos e clientes para tudo isto. Milhões de clientes que acham bem afastar daqui as guerras e as chatices. Pagam para a guerra se fazer fora daqui, pagam muito para continuarem a gastar e a ganhar em volumes que nos impressionam. “This is the american dream” e se não o percebermos não percebemos o topo do mundo.

Por: Diogo Cabrita

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