Temos de admitir que existe um número que assume declaradamente as suas funções cabalísticas, no exercício que suplanta as suas capacidades aritméticas. É o sete.
É evidente que o número sete nos empolga. Mas também é evidente que nos assusta e nos retrai. E que tudo isto se consuma no silêncio do número atravessado a meio da perna por um hífen e se desenvolve, simultaneamente, num círculo vicioso e numa série de ambiguidades.
Apesar de ser um número primo, não assumo com ele parentesco, nem com o que se lhe segue, que é o 11. Mas tenho de admitir que 7 são as cores do arco-íris e 7 são os dias da semana que se repetem desde o dia em que nasci.
Vejamos as coincidências, todas elas com registo nos livros sagrados:7 anos serviu Jacob a Labão por mor de conseguir a mão de Lia; José, na corte do Faraó, sonhou com 7 vacas magras e 7 vacas gordas (sonho que parece ter também atormentado Guterres e Cavaco); 7 foram as palavras que Jesus pronunciou na cruz, assim como 7 foi o número de quedas a caminho do Gólgota; Deus criou o mundo em seis dias e descansou ao 7º; ainda 7 era o número dos tubos das flautas de Pã e outro tanto o número das cordas da lira tocada pelo deus Apolo. 7 foi o número de casais que Noé escolheu para a arca, sem constar que desses algum fosse “gay”.
Outro tanto, as que respeitam às superstições: 7 é o número de fôlego dos gatos e também 7 é o número de anos de atraso para quem os mata; 7 é o número das chaves que devem guardar os segredos e são tantos como 7 o número de andares do Céu e outros tantos os do Inferno, na crença muçulmana; a Hidra tinha 7 cabeças;7 é igualmente o número de anos que se supõe perdoar a quem rouba ladrão e porventura 7 sejam as ausências de castigo, em tribunal, a quem sequentemente roube.
Ora, 7 são também as obras de misericórdia, assim como 7 são as maravilhas do mundo e, à moda da lusa pátria, as 7 maravilhas naturais de Portugal. São 7 os pecados capitais, mas igual número é o das virtudes humanas e 7 as virtudes cardinais. 7 são os sacramentos, sendo que o sétimo, o matrimónio, anda muito mal tratado. Ainda sob 7 palmos de terra ficam os humanos sepultados, antes, durante ou depois de terem completado, no catálogo de Shakespeare, as 7 idades do Homem. O candelabro judaico tem 7 braços, são 7 as trombetas do Apocalipse, há os 7 castiçais de ouro e as notas musicais são 7 – digam lá: dó, ré, mi ….
Na religiosidade cristã, 7 são as Chagas de Cristo, o mesmo número de horas de agonia e 7 as dores de Nossa Senhora e 7 são os dons do Espírito Santo.
Perguntando-se, até, quantas são as colinas de Roma e quantas as de Lisboa, a resposta é idêntica – 7. Plasticamente, assim rodeadas as capitais de dois impérios ( do Romano e do Quinto Império), esta irmandade “colinária” mantém o mito do número, identificando, uma por uma: em Roma, Campidoglio, Quirinale, Viminale, Esquilino, Celio, Aventino e Palatino; em Lisboa, com os santos da terra, S. Jorge, S. Vicente, Santa Ana (não confundir com Santana, que é mais um precipício), Santo André, Chagas, Santa Catarina e S. Roque.
O Carnaval ocorre sempre 7 domingos antes do domingo de Páscoa e 7 eram os sábios da Grécia. 7 anos demorou a construir o templo de Salomão, mas quantos 7 anos multiplicados por outro dígito não tem demorado a construir o Hospital da Guarda?
Na tradição popular infantil, 7 eram os anões que brindaram e recolheram a Branca de Neve, sem esquecer que há um gigante que tem botas de 7 léguas.
Os portugueses navegaram por 7 mares (ora cantados pelo grupo 7ª Legião) para encontrarem as 7 partidas do mundo, no tempo em que os mesmos portugueses, sem número de contribuinte e sem cartão de cidadão, graças à sua virtuosidade e habilidade, eram considerados os homens dos 7 instrumentos. No Brasil, que “descobriram” e que Pero Vaz de Caminha noticiou em 7 folhas, deram o nome de 7 Lagoas ao que é hoje um município do estado de Minas Gerais e é dali a planta medicinal que se chama 7 Sangrias. Nos Açores, irmã em número, a Lagoa das Sete Cidades.
Politicamente falando, Alberto João Jardim apresentou 7 ideias para salvar o PSD nas “Palavras Assinadas”, as quais foram debitadas para salvar o partido.
Pior para o número – e para nós – 7 são os flagelos das nossas carteiras: IVA; IRS; IRC; IMT; IMI; Selo; ISV.
Para que se não diga que o Sete queda na simplicidade deste dígito, miremos os seus múltiplos, como disso é o 21 (7 vezes 3) que nos conduz ao número de projectos que Sócrates assinou como engenheiro na Guarda, em concomitância com a exclusividade de deputado da AR. E 7 terão sido as advertências sobre possíveis sanções disciplinares pela falta de qualidade dos ditos projectos e falta de acompanhamento das obras.
Enfim, deste primeiro ministro também há quem diga (como eu) que pinta o 7 e, para remedar o patrono desta coluna (Gonçalo Anes Bandarra), diria que 7 seria o número ideal de meses para ele continuar a sê-lo. Não porque ele próprio não queira. Ele quer. Mas para que nós não queiramos.
Por: Santos Costa