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O Senhor Ministro da Saúde

Coisas…

Que o ministro da saúde tem uma certa queda para a “gaffe” já todos nós sabíamos; que gosta imenso de se ouvir, também não é novidade; e, finalmente, que tem uma relação de amor (mal correspondida) com as câmaras da televisão, não constitui propriamente um segredo.

Mas cada um é como é e ninguém tem nada com isso, diremos todos. Será assim? Não. Obviamente que não quando o que está em causa são as atitudes e afirmações do máximo responsável pela saúde neste país (não pela saúde deste país, não haja confusões).

Sua excelência o ministro da saúde, pondo fim a um longo jejum mediático de mais de 3 dias, veio até nós para informar que um hospital de Lisboa tinha nos seus quadros uma quantidade enorme de oftalmologistas, mais concretamente 58! Ao afirmá-lo, deixava implícito que o exagero do número significava que havia por ali muito parasita a chupar o dinheirinho do Serviço Nacional de Saúde, ou seja, o nosso dinheiro. Não satisfeito, atirou com outro número que pretendia contabilizar o total de funcionários do hospital de Sta. Maria: 6000, dos quais 1000 seriam excedentários. Sem pretender especular acerca das verdadeiras intenções de um ministro que vem para a televisão apregoar números soltos ao invés de estudar e resolver os problemas na discrição do seu gabinete, já me interessa sim tentar perceber como é possível que uma pessoa com um tão alto nível de responsabilidade, não procure informar-se convenientemente antes de se expor ao ridículo perante um país inteiro. De facto, até para se fazer demagogia convém ser rigoroso.

Compreende-se mal que alguns dos sucessivos ministros da saúde deste país, optem sistematicamente por praticar uma política de recados em vez de, através de um trabalho sério e concertado, resolverem de facto os problemas que nos afligem a todos. A área da saúde é demasiado sensível para poder ser tratada com este nível de leviandade. Não nos esqueçamos de que na base da pirâmide (em cujo topo está o esbracejante ministro Correia de Campos, também conhecido por “parte-cadeiras”) se encontram os doentes e a relação, necessariamente de confiança, que estabelecem com os profissionais de saúde. Um ministro que vem para a televisão e para os jornais acusar, indiscriminadamente, os profissionais de saúde de parasitismo do Serviço Nacional de Saúde, está a minar irremediavelmente essa relação de confiança. Tudo em nome de uma demagogia que pretende esconder incapacidades, faltas de rigor e incompetência.

Relembro, para os mais distraídos, que este senhor já lá esteve. Não relembro a obra que deixou.

PS: Já agora a correcção dos números do senhor ministro: afinal os 59 oftalmologistas eram apenas 24, dos quais 16 fazem urgências noutros hospitais. Os tais 6.000 funcionários, afinal eram 5.300 (dados fornecidos por quem sabe, os directores do serviço e da instituição).

Por: António Matos Godinho

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