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«O sector agroalimentar é decisivo no concelho de Trancoso, onde há empresas que são referência»

António Oliveira, presidente da direção da AENEBEIRA, falou ao Jornal das Empresas sobre a Feira do Fumeiro, que decorre entre amanhã e domingo e no fim de semana de 8 e 9 de março

P – O que esperar de mais uma edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – O número de expositores é idêntico ao das últimas edições. São cerca de 80 expositores, 60 de produtos agroalimentares, enchidos, queijos, vinhos, azeites, mel, doces regionais; 18 expositores de artesanato da região e dois stands institucionais: um da Confraria das Sardinhas Doces de Trancoso e outro da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (ANSUB), que pela primeira vez se fará representar. Temos aqui uma parceira com a ANSUB que passa um pouco também pelo facto de termos nesta feira, pela primeira vez, uma exposição de animais no parque que existe nas traseiras do Pavilhão Multiusos.

P – Essa é uma das novidades…

R – Sim, vão estar expostos em três boxes cerca de 12 porcos da raça bísara, quatro porcas parideiras, quatro machos reprodutores e meia dúzia de leitões. Haverá um colóquio no sábado, com a secretária-geral da ANSUB e outras entidades, para falar da importância da raça bísara e da qualificação das nossas produções regionais. Não temos denominações nenhumas de origem, nem IGP nem DOP, a nível de enchidos, ao contrário do que acontece nomeadamente no nordeste transmontano e há aqui um caminho a percorrer. Porque para se fazer uma IGP da morcela da Guarda, por exemplo, o Ministério da Agricultura vai exigir que se utilize carne da raça bísara, tal como em Trás-os-Montes. E aqui não havia produção, a variante beiroa do porco bísaro tinha praticamente desaparecido da nossa região. Neste momento está reintroduzido fortemente com a aposta, pois já temos no concelho de Trancoso, se calhar, o maior produtor de bísaros do país, que é uma empresa do grupo Casa da Prisca, a AgroBacorinho, que tem neste momento mais de 400 suínos da raça bísara. E, além de se preparar para produzir enchidos com base na carne do porco bísaro, fornece também outras explorações mais pequenas da nossa região. Este é o primeiro passo para que a indústria artesanal e a indústria de enchidos da nossa região possam vir, através das associações que representam os produtores, a pedir a certificação de denominações dos enchidos, pois só assim se consegue valorizar este tipo de produto. Naturalmente que, se for certificado, aumenta aqui o seu valor acrescentado.

A reintrodução na região da raça bísara é um passo essencial, que já está a acontecer, e a sua utilização para a produção de enchidos, que só com a utilização do porco bísaro será certificada, porque é raça autóctone da nossa região. Vamos ter um colóquio, no sábado, onde estará presente um professor da Escola Superior Agrária de Coimbra e, nesse dia, o grupo Casa da Prisca vai assinar um protocolo com a ESAC que tem a ver com o porco bísaro. Estará presente, para nos falar da certificação e da valorização dos produtos regionais, a Ana Soeiro da Qualifica, que foi responsável pela certificação de produtos no Ministério da Agricultura. E haverá uma outra comunicação da secretária-geral da ANSUB, que tem sede em Vinhais. Há uma parceria que estamos a tentar estabelecer e que envolve alguns produtores, no sentido de se caminhar para valorizarmos este tipo de produções e que passa pela certificação. Queremos dar o nosso contributo para que isso venha a acontecer, pelo que temos uma exposição com alguns suínos da raça bísara, à semelhança do que acontece na Feira de Vinhais, onde há uma dinâmica com exposição, até com concursos, mas aqui ainda não há produtores essa dimensão.

P – O visitante, ao chegar à Feira do Fumeiro, vai encontrar que stands?

R – Temos duas vertentes, quer na produção de queijo quer nos enchidos e fumados: pequenos produtores ou salsicharias artesanais e unidades com uma certa dimensão. E são provenientes, como sempre, daquilo que é a futura NUT Beiras e Serra da Estrela e admitimos também a presença de duas regiões limítrofes, Dão Lafões e o Douro, se bem que de Dão Lafões ultimamente não tem havido a presença de nenhum produtor. Não aceitamos produtores de outras regiões do país; vários nos contactaram mas sempre recusámos a presença desses produtores. Tem de ser uma feira desta região. A nossa aposta é promover o produto que se faz entre o Vale do Douro e a Estrela/Cova da Beira. É esta a nossa vocação, foi esta a feira que concebemos e que vimos desenvolvendo ao longo dos anos.

P – Que importância tem esta feira, em termos económicos, em Trancoso e na região?

R – Penso que a feira tem sido importante para os produtores e para as empresas presentes. Há sectores onde a importância da feira é mais no sentido da apresentação e da promoção do produto e outros onde, para além da promoção, há o interesse direto pelas transações que são efetuadas. Por exemplo, o sector dos vinhos é mais para se dar a conhecer do que propriamente pelas vendas que realiza, pois pode conseguir contactos profissionais para futuras vendas. No sector dos enchidos já será diferente. Há muitos milhares de pessoas que nos visitam, associados também à dinâmica das Amendoeiras em Flor, razão pela qual apostamos em fazer a feira nesta altura. Há muito tempo que temos a feira ligada à visita de muitos operadores à região por ocasião das amendoeiras e tem funcionado. Vamos ter o mesmo número de expositores que em edições anteriores e, do ponto de vista orçamental, esta é uma feira que tem um orçamento mais reduzido este ano. É preciso conter custos e fizemos aqui uma redução do orçamento de cerca de 15 por cento. A feira tem um orçamento de 30 mil euros, quando o ano passado teve cerca de 35 mil euros; 60 por cento são suportados pela AENEBEIRA, cerca de 27 por cento pela Raia Histórica e 13 por cento são receitas do próprio evento. Depois há outras entidades que são também organizadoras, como é o caso da Câmara Municipal de Trancoso e da Empresa Municipal, mas que apenas dão apoio logístico à realização da própria feira. É bom que se refira que a Câmara de Trancoso não tem uma responsabilidade financeira na Feira do Fumeiro de 2014, tal como não teve em 2013, 2012 ou 2011… Foi sempre um bom colaborador institucional, logístico, mas nunca assumiu responsabilidades financeiras, sendo que, há vários anos, a Empresa Municipal terá suportado alguma da animação. Em 2014, à semelhança dos anos anteriores, a Câmara não tem responsabilidades diretas no financiamento.

P – Dez anos de Feira do Fumeiro: está feita uma afirmação como o grande evento dos enchidos da Beira Interior Norte?

R – Sim, porque na nossa região não havia, praticamente, nenhum evento desta natureza. O sector agroalimentar é decisivo no concelho de Trancoso, onde há empresas que são referência. A Casa da Prisca é hoje uma referência nacional e quase internacional, há outra salsicharia com caraterísticas industriais e depois há mais sete ou oito salsicharias artesanais. Agora a produção do concelho de Trancoso, no âmbito da Beira Interior Norte, representará 80 ou 85 por cento da produção de enchidos. Naturalmente que o sector de produção de queijo é importante, até porque temos duas unidades industriais de produção de queijo, a Lactovil e Lacticôa, e temos 15 queijarias artesanais, licenciadas e em funcionamento. Vão estar presentes 12 ou 13 aqui do nosso concelho na feira e haverá participantes de alguns concelhos limítrofes, como Fornos de Algodres e Celorico da Beira.

P – Em termos de visitantes, quais são os objetivos?

R – Temos sempre uma dificuldade enorme para quantificar o número de visitantes porque não há controlo de entradas, a entrada é livre. Calculamos, à semelhança das edições anteriores, que teremos cerca de 30 mil visitantes. Há uns anos fizemos uma contagem e, com base nisso, apontámos para os 30 mil, e penso que será muito próximo disso.

P – A crise preocupa-o?

R – A questão da crise é sempre importante. Tive muito receio na edição do ano passado, de facto estava assustado, mas correu bem. Os expositores ficaram satisfeitos e, se em 2013 não correu mal, espero que este ano corra, pelo menos, de forma similar à do ano transato.

P – Para além dos produtos expostos também vai haver a tradicional animação?

R – Há sempre alguma animação, com folclore, com música e com grupos regionais. Para além desta animação, nos cinco dias da feira decorrerá também um Festival Gastronómico aqui com a restauração de Trancoso. Penso que o ano passado tivemos nove restaurantes participantes, este ano temos 11 ou 12. Houve um aumento de restaurantes participantes e naturalmente que o Festival Gastronómico é uma oportunidade para a hotelaria local se afirmar e oferecer aquilo que é mais caraterístico e regional nas ementas que confeciona. É extremamente importante e é sempre bastante bem recebido pelo sector. Também não é novidade que nesses dois fins de semana a hotelaria local regista, de uma forma significativa, um aumento do número de clientes.

P – Disse que contam com muitas visitas, nomeadamente porque os operadores trazem pessoas às Amendoeiras em Flor. Falamos de visitantes de longe…

R – A posição de Trancoso nesse aspeto é estratégica porque a A25/IP2 é uma das portas de entrada para o Vale do Douro. Registamos um número significativo de autocarros, no sábado e, fundamentalmente, aos domingos, ou de manhã ou ao final da tarde. Temos, nos fins de semana da feira, muitas dezenas de autocarros.

P – Estamos muito perto de Espanha mas, em termos de capacidade de atrair visitantes, ainda estamos muito longe. Como se altera isso?

R –É muito difícil… É uma fileira onde nós não temos nada que ensinar aos espanhóis, como sabemos. Eles têm um sector de charcutaria fortíssimo, nós há dois anos fizemos a apresentação da Feira do Fumeiro em Salamanca, no stand que os municípios têm na Praça Maior, fizemos publicidade e produção na imprensa local, mas o feedback foi muito pouco.

P – Vão insistir?

R – Do ponto de vista turístico faz todo o sentido promover a nossa região e o nosso património, mas para este evento não nos parece essencial. O ano passado fizemos uma ação promocional da Feira do Fumeiro na Casa da Beira Alta, no Porto, que resultou muito bem, e aí vale a pena. Este ano não repetimos a iniciativa, se calhar voltaremos a realizá-la, porque muitas das pessoas que não são da região e visitam a feira são dos distritos de Aveiro, Porto e Braga.

P – Considera que as portagens ex-SCUT têm afastado visitantes?

R – São um entrave claramente. Dá-me a sensação, provavelmente por causa da crise, mas também por causa das portagens, vejo menos pessoas provenientes do litoral e das regiões urbanas a visitarem as nossas aldeias históricas e o nosso património ao fim de semana. Há um recuo que não é estranho ao contexto económico do país, mas seguramente que as portagens têm um contributo decisivo. Vir de Lisboa à região custa 50 e tal euros só de portagens; é mais um custo e é um custo importante.

P – As condições atmosféricas são importantes para o sucesso do certame?

R – O clima aqui é o normal, a feira é dentro do Pavilhão, mas já tivemos anos complicados, com um grande nevão, que num dos dias nem se pode abrir, e correu bem. Já tivemos a feira com uma grande sincelada… A neve dificulta as acessibilidades mas, enfim, este ano penso que as previsões são para este tempo, com mais ou menos chuva, mas seguramente que será agradável para a visita à feira. As más experiências que tivemos da feira nas primeiras edições, em que fizemos isto em finais de janeiro, princípio de fevereiro, foi quando tivemos problemas com a intempérie. De há sete anos para cá, que fazemos sempre em finais de fevereiro, princípios de março, tem-se feito tranquilamente.

P – O facto de o executivo da Câmara de Trancoso ter mudado de “cor” implicou alguma alteração no relacionamento?

R – Absolutamente nada. A parceria existente mantém-se nos mesmos moldes, porventura manter-se-á aqui como se manterá noutros eventos, nomeadamente a Feira de S. Bartolomeu. Nós trabalhamos com mais do que um município das diferentes cores políticas e acima do contexto político-partidário.

P – Vai ser, então, uma grande Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – Esperamos que seja um sucesso e que seja mais um contributo para a promoção e para a divulgação da nossa fileira de produtos regionais e dos nossos produtores.

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