O resultado destas eleições foi uma catástrofe; e já era previsível. Quando a 1º Ministro ascendem figuras sem a mais pequena importância cultural, sem o mais pequeno conhecimento da identidade do nosso País e, portanto, sem a mais pequena aptidão para o transformarem conduzirem, um precipício, digamos, é o que está imediatamente a seguir. Refiro-me, claro, a Durão Barroso e a Santana Lopes.
Por padrões europeus só nos restam os lugares da cauda. Porque os políticos falam permanentemente da Europa, mas não a conhecem. Aliás, os resultados estão à vista.
Qual tem sido a posição da Igreja Católica a propósito dessa prodigiosa energia que é o dinheiro e, v.g., a do Calvinismo? Que consequências tiveram, por um lado, durante a Contra-Reforma (séc. XVI), a instituição de um Index que obstava – em absoluto, digamos – à leitura e, por outro, a tradução da Bíblia para Alemão por Lutero e o instigar os seus prosélitos (e os prosélitos protestantes, não só luteranos) à leitura e interpretação desse texto? Ademais, consabidamente, Lutero é uma das figuras cimeiras da cultura alemã.
Os espíritos destes países meridionais ficaram apoucados, sem disciplina interior (vejam-se os resultados dos liceais portugueses a Matemática), sem energia mental, portanto, ética, moral, social…, sem cordura, o que é visível tanto neste dramático atraso português, como na violência espanhola, onde, anualmente, dezenas de mulheres são assassinadas pelos maridos.
Uma forma de os que ocupam lugares de chefia em Portugal se aproximarem da Europa, entendê-la, dominarem o seu conhecimento e, ipso facto, inocularem em Portugal os seus padrões, era viajarem por ela durante todos os Agostos, visitarem os seus museus, o seu património histórico, artístico, cultural…
Era saberem que energia conferiu o luteranismo aos pescadores noruegueses, como instilou disciplina aos suecos para pagarem impostos sobre os rendimentos que, às vezes, chegam, aos 85 %, ou respeitarem os limites de velocidade – 110 quilómetros/hora nas auto-estradas – que tornam a Suécia um dos países de mais baixa sinistralidade rodoviária no Mundo, como deu identidade nacional à Finlândia, que conseguiu, finalmente, em 1917, separar-se da Rússia, afirmando uma cultura pujante, como conferiu orgulho nacional a um território tão exíguo como a Dinamarca que pôde mandar às malvas a adesão ao Euro (tal como a Suécia).
Em recentes declarações a um jornal francês, Sócrates afirmava que o modelo nórdico era o seu.
Há bons pares de anos, em artigo no Jornal do Fundão em que atacava o autarca covilhanense Carlos Pinto, Sócrates rematava: “Vossa Excelência é um paraquedista político”. O texto era absolutamente superficial e o final surgiu como uma suprema iluminação arrancada a ferros, como a luminosa inexpugnabilidade de um filósofo.
Quando da campanha para Secretário-geral do seu partido, respondendo ao seu opositor Mário Soares, retorquiu-lhe que as suas posições eram “de museu”.
O museu não é para Sócrates um templo de beleza, um dos pontos mais altos da concreção do espírito humano e, perenemente, lição aos mais altos espíritos. Uma ilustração: em 2003, o Museu Nacional do Prado (Madrid) teve cerca de 2.400.000 visitantes; o nosso Museu Nacional (Arte Antiga) teve cerca de 71.000, em 2004, (tendo perdido mais que 25.000, relativamente ao ano anterior).
Para Sócrates o museu é um acervo de velharias. “Assim vai a glória do Mundo” e, em regra, os intelectuais do PS – que agora contam com Freitas do Amaral. Nunca esquecer o “hádem”.
O prezado leitor fica convidado a descortinar onde é que, na Europa, e com que percentagem, há algo como o “Bloco de Esquerda”. Curvo-me no seu empenhamento contra o racismo; quanto ao resto, muitas das suas propostas não me parecem mais que sinistras. Aborto? Pederastia? Lesbianismo? Problemas situados ao nível do baixo ventre.
Faz-me lembrar o que, como chacota, quatro rapazes casados (c.30 anos), italianos, que procuravam “apenas sexo”, sabendo “muito bem as suas suas mulheres ao que iam”, me diziam, em 1997, num restaurante em Oslo, onde nos encontrámos, sobre a legislação sexual em Portugal: “É muito avançada!!…”.
E o estimado leitor está igualmente convidado a saber onde encontra, na Europa, um partido como o PCP, embora a este, necessariamente, se lhe confira a respeitabilidade das lutas laborais.
Bem no fundo nenhum destes partidos emerge de uma idiossincrasia portuguesa – e “a completa ausência de sensibilidade do PS para as realizações lusas no orbe” foi-me salientado por um dos nomes maiores, e consagrados, da actual cultura portuguesa.
É esta uma verdade evidente e, no PPD, a situação não é melhor por aí além.
É uma das razões por que, de um formidável dramatismo, a renúncia de Portas só pode ser reversível.
Há que voltar ao assunto.
27-II-05
Por: J. A. Alves Ambrósio