O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) é o segundo partido político mais antigo de Espanha, fundado clandestinamente em 1879 por um núcleo de intelectuais e tipógrafos, embora só em 1910 tivesse conseguido obter representação parlamentar.
Com a transição para a democracia e as primeiras eleições democráticas em 1977, o PSOE torna-se uma força determinante no novo sistema político, e em poucos anos atinge a hegemonia junto do eleitorado de esquerda. As alterações ideológicas que levaram ao abandono do marxismo e a aceitação da monarquia, apesar de uma forte tradição republicana, permitiram ao partido conquistar finalmente o eleitorado de centro e chegar ao poder em 1982, com Felipe González. O primeiro ciclo de poder do PSOE duraria 14 anos, até 1996, interrompido pelo reagrupamento da direita espanhola em torno do Partido Popular (PP) mas em 2004, no seguimento de uma campanha crispada e marcada pelos atentados terroristas de Madrid, Zapatero consegue de novo levar os socialistas ao poder. A nível autonómico, a Andaluzia depressa se impôs como bastião do PSOE, o que garante aos socialistas andaluzes primazia na organização federal do partido.
Ao conquistar a fidelidade do eleitorado de esquerda, o PSOE foi garantindo uma base importante para a conquista do poder, à medida que o velho Partido Comunista se ia desgastando e reinventando, em sucessivas alianças falhadas em forma de Esquerda Unida (IU), sem conseguir atrair o novo eleitorado de esquerda. Contudo, a crise económica e financeira que atingiu fortemente a Espanha viria a produzir forte impacto no sistema político e partidário, sobretudo. No seguimento do movimento dos indignados, que abalou Madrid em março de 2011, foi criada uma nova força política que rapidamente conquistou espaço político e representação parlamentar. O partido Podemos, com as novas elites intelectuais de esquerda à sua frente, não só conseguiu intervir eficaz e publicamente nas questões mais relevantes do país – a crise, as desigualdades, a corrupção – como se impôs rapidamente como competidor político de PSOE e IU. O bloqueio político que se vive há quase um ano em Espanha – ou seja, a dificuldade de formar governo após duas eleições legislativas, ou gerais, como se diz por lá – está diretamente relacionado com esta alteração de forças na esquerda espanhola.
Por enquanto, o PSOE mantém-se como segunda força nacional e lidera a esquerda, mas as sondagens para umas terceiras eleições afiançam o ‘sorpasso’, ou seja, a substituição do PSOE pelo Podemos como principal força da esquerda. Perante esta possibilidade, que há muito é avançada, o agora ex-líder dos socialistas Pedro Sánchez procurou manter-se firme na estratégia traçada. Temendo a fuga do eleitorado de esquerda para o Podemos, negou-se a facilitar no Parlamento a aprovação de um governo (de minoria) do PP. Com isso, tornou umas terceiras eleições mais prováveis e aumentando a ansiedade dos barões regionais do PSOE, descontentes com Sánchez e desconfiados do que veem como deriva esquerdista.
Finalmente os barões deram o golpe de misericórdia e Sánchez demitiu-se. No seu lugar está agora uma comissão que gerirá o partido até novo congresso e cuja tarefa mais urgente será evitar novas eleições e facilitar a aprovação de um governo minoritário do PP. Com isto, os barões do PSOE procuram sobretudo evitar a ascensão do Podemos e empurram o problema com a barriga. A ironia é que vão certamente ficar reféns de Mariano Rajoy e do PP. Fragilizado como está após a recente crise, e reveladas as suas ansiedades internas quanto a novas eleições, o PSOE dificilmente poderá escapar a uma legislatura de constantes represálias e ameaças por parte do PP. Na oposição mas obrigado a suportar um governo do PP, o PSOE enfrentará o risco de PASOKização, ou seja, o processo de marginalização política sofrido pelos socialistas gregos ao longo dos anos desta crise.
Por: Marcos Farias Ferreira