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O presidente da Câmara que trouxe a Renault para a Guarda

Filho de Joaquim Pina Gomes pretende que o Largo da Estação volte a ter o nome do seu pai

O filho de Joaquim Pina Gomes, antigo presidente da Câmara da Guarda que há 50 anos conseguiu trazer a fábrica da Renault para a cidade, gostaria que o Largo da Estação, onde a unidade industrial nasceu, volte a ter o nome do seu pai. Jaime Pina Gomes entende que esta seria «uma justa homenagem a um homem que tanto fez pelo desenvolvimento da região» e, para o efeito, já escreveu a Álvaro Amaro, solicitando-lhe que o nome do seu progenitor volte a constar na toponímia da cidade.

Hoje advogado, o então jovem recorda que o seu pai teve um papel «muito relevante» na vinda da fábrica da marca francesa para a Guarda-Gare e «nessa altura ele andava numa roda vida da Guarda para Lisboa para mover influências, no bom sentido, para que a fábrica viesse para a cidade», sendo que «havia outras localidades interessadas». Hoje com 64 anos, Jaime Pina Gomes lembra que o largo fronteiro à fábrica teve o nome do seu pai porque se gerou um «movimento nesse sentido» e quando isso sucedeu «o meu pai até ficou surpreendido na altura, até porque já tinha deixado de ser presidente da Câmara». No entanto, «os ventos mudaram e depois do 25 de abril, não sei porquê, a Câmara decidiu incompreensivelmente retirar o nome do meu pai e meter Largo da Estação». Nesse sentido, o filho do homem que liderou os destinos da cidade entre 1958 e 1966 tomou a iniciativa de escrever ao atual presidente da Câmara para lhe solicitar que volte a atribuir o nome do pai ao agora Largo da Estação por «várias razões». Desde logo porque «para o ano o meu pai faria 100 anos se estivesse vivo e a de 2 junho assinalam-se os 50 anos da inauguração da fábrica», duas «coincidências marcantes».

Jaime Pina Gomes considera que o seu pai «marcou essa época», isto porque a Guarda «era uma zona intrinsecamente rural e a Renault fomentou muito a vida na cidade e em toda a região», salientando que trabalharam na fábrica «largas centenas de pessoas». O advogado pretende que o nome do pai continue ligado ao local porque «acho que a sua memória deve ficar perpetuada» e «seria um justo reconhecimento», além de um «ato de justiça e de gratidão para com alguém que, no seu tempo, muito fez pelo concelho, quer enquanto presidente da Câmara, quer noutras qualidades». Até ao momento, Jaime Pina Gomes ainda não recebeu resposta de Álvaro Amaro, mas compreende «perfeitamente» a situação, até porque o novo autarca «deve estar assoberbado com outros assuntos», embora continue «esperançado» que as suas diligências serão bem sucedidas e culminarão na reparação «da injustiça de que o meu pai foi objeto, pois creio que a cidade e o concelho têm um dever de gratidão para com ele e para com a perpetuação da sua memória».

Joaquim Pina Gomes, engenheiro civil de profissão, foi vereador da Câmara da Guarda entre 1941 e 1944, tendo sido presidente do município entre janeiro de 1958 e janeiro de 1966, acumulando esse cargo com o de presidente da Federação de Municípios da Beira Serra. Enquanto autarca, empenhou-se profundamente no desenvolvimento do concelho numa altura em que as dificuldades orçamentais tolhiam a gestão municipal e não havia fundos comunitários. Levou a cabo obras importantes como a reformulação e modernização da rede de abastecimento de água à cidade, a modernização e ampliação do Hotel de Turismo, a ampliação do tribunal e do cemitério, a finalização da rede elétrica do concelho, para além de ter tido um contributo decisivo para a instalação de unidades industriais como a Renault.

Natural de Belmonte, Joaquim Pina Gomes destacou-se também na sua terra natal, tendo sido vereador na autarquia e fundador e presidente dos Bombeiros Voluntários. Foi ainda Procurador à Câmara Corporativa entre 1961 e 1966, em representação dos municípios rurais dos distritos de Aveiro, Viseu, Coimbra, Guarda, Castelo Branco, Leiria e Lisboa. Em Lisboa, foi presidente da Junta de Freguesia do Alto Pina e deputado na Assembleia Municipal, entre 1983 e 1985. Faleceu em dezembro de 2004.

Joaquim Pina Gomes foi presidente da Câmara da Guarda entre 1958 e 1966

Comentários dos nossos leitores
José Quelhas Gaspar quelhasgaspar@sapo.pt
Comentário:
O período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 propiciou um conjunto de actos inadequados para uma sociedade equilibrada, informada e justa, alguns deles pouco abonatórios para os seus autores. Creio que a mudança de designação toponímia do largo “Joaquim Pina Gomes” para “Largo da Estação” foi um desses actos. Considero justa a petição formulada pelo Dr. Jaime Pina Gomes, em nome de seu pai, mas também em nome da verdade histórica e da justiça que é devida a personalidades que, pelo seu desempenho, promovem a sociedade em que vivem, ajudando-a realizar-se em ordem ao progresso.
 

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