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O Porquê das Teorias da Conspiração

Ainda me lembro de quando os americanos foram à Lua. Um bêbedo passava na rua e tartamudeava que era tudo mentira, que tinham inventado tudo para nos enganar e que éramos todos uns tolos por termos caído no logro. Há ainda muitos que acreditam nisso, assim como acreditam em todo o género de conspirações e que, perante os acontecimentos e explicações mais evidentes, procurem desígnios ocultos e personagens que na sombra puxem os cordelinhos.

Ainda o fumo dos rebentamentos da maratona de Boston se não tinham dissipado e já havia quem pugnasse por uma de duas teorias contraditórias: que nada tinha acontecido e que tudo não passava de um boato; que o trabalho tinha sido encomendado pelo governo norte-americano como pretexto para mais uma guerra. Provas? Fotografias de empregados fardados de uma empresa de segurança misturados com a assistência. Não tardava e tais teorias chegavam aos blogues da esquerda, por exemplo ao portuguesíssimo 5dias.net. Aí, a quem tentasse objectar, vinha o argumento decisivo: não foi já comprovadamente feito, por exemplo pelo Hitler, quando mandou incendiar o Reichstag para culpar os judeus? E o afundamento do Maine, que levou à guerra hispano-americana? (Uma “lógica” muito estranha: se ali foi assim, aqui também pode ser e, por isso, é.)

Rios e rios de tinta correram e vão continuar a correr por histórias destas. Os Protocolos dos Sábios de Sião, o 11 de Setembro como “inside job” do governo americano, os aliens de Roswell, Kubrik a filmar na Terra o desembarque lunar, têm e vão ter quem jure pela sua autenticidade. Mas porquê?

Os psicólogos há muito que notaram, como traço comum de muitas pessoas que acreditam em tais histórias, o sofrerem de esquizopatias paranóides. No entanto tem-se verificado que há muito gente, aparentemente saudável, a acreditar também nessas teorias. Algumas chegam mesmo a manifestar simpatia simultânea por teorias da conspiração fundamentalmente antagónicas, como por exemplo, num recente estudo, as que davam Bin Laden como ainda vivo, ou pelo contrário já morto, aquando do raid no Paquistão.

Inclinam-se assim agora os psicólogos (também) para outro género de personalidades, e não necessariamente psicóticas, como mais atreitas a esse tipo de teorias. Incluem já personalidades pura e simplesmente avessas à autoridade ou em geral insatisfeitas com o rumo que as coisas levam, na política ou na sua própria vida, como gente mais atreita em querer descobrir o oculto naquilo que parece evidente para os outros.

Já Karl Popper avisava contra o enviesamento cognitivo constituído por sobrestimar e considerar intencionais as acções dos outros, quando estas não eram senão o produto de circunstâncias situacionais aleatórias – enviesamento que acaba por afectar muita dessa gente e está na base das suas teorias.

Esta crença de que “está tudo ligado”, esta procura de explicações e soluções para tudo com recurso a muito poucas fontes (“está tudo lá”, no Marx ou no Corão), esta coincidência nos inimigos, acabam por aproximar gente de origens algo contraditórias, como são por exemplo os fundamentalistas islâmicos e os extremistas mais empedernidos de alguma (pouca) esquerda. Conspirarão (e aqui vai uma teoria) juntos?

Por: António Ferreira

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