O Sabugal e a Guarda são duas das 100 cidades portuguesas que vão exibir, segunda-feira, em simultâneo, o documentário “Agostinho da Silva – Um Pensamento Vivo”. Esta evocação nacional do pensador e filósofo acontece no dia do centenário do seu nascimento, no âmbito de uma iniciativa promovida pela Comissão das Comemorações Oficiais da efeméride, a Associação Agostinho da Silva e a Alfândega Filmes. Mas o acontecimento já está a ser assinalado na localidade raiana, com a exposição foto-bio-bibliográfica “Agostinho da Silva – Pensamento e Acção”.
A mostra está patente desde ontem, e até dia 17, na sala de exposições temporárias do museu municipal, revelando uma série de textos e fotografias que identificam o seu percurso bio-bibliográfico e algumas das linhas-chave do pensamento do filósofo. Já o filme é exibido em duas sessões no auditório. À tarde, para o público escolar, a que se segue uma palestra do professor Vitorino Tiago, e pelas 19 horas para o público em geral. Na Guarda, a efeméride consta apenas da projecção do documentário na Mediateca VIII Centenário, na segunda à noite. Agostinho da Silva (1906-1994) nasceu no Porto e cresceu em Barca d’Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. É considerado um dos mais importantes e libertários pensadores portugueses do século XX, tendo dedicado toda a vida à liberdade do Homem e do Espírito. Fundou universidades, percorreu o país com palestras abertas a todos e falava 15 línguas. Formou-se em Filologia Clássica, com 20 valores, na Faculdade de Letras do Porto, e concluiu o doutoramento com o “maior louvor”.
Tornou-se professor efectivo no liceu José Estêvão (Aveiro), em 1933, mas dois anos depois foi exonerado por se recusar a assinar a Lei Cabral. Um documento onde tinha que jurar não pertencer a nenhuma sociedade secreta. Teve então que se dedicar ao ensino privado, às explicações e a uma série de palestras públicas. Daí resultaram os seus famosos cadernos de iniciação cultural, sobre áreas diversas. No total foram editados 120 cadernos pelo filósofo, entre 1937 e 1944. Com muita polémica pelo meio com a Igreja e o Estado Novo, o que lhe valeu a prisão no Aljube e a confiscação e inventariação da sua biblioteca. Pouco depois rumou ao Brasil, onde participou na fundação de universidades e centros de estudo, sobretudo fora dos centros urbanos. Em 1958 tornou-se cidadão brasileiro, regressando a Portugal 11 anos depois com a instauração da ditadura no Brasil. Por cá manteve uma intensa actividade editorial e filosófica até à sua morte, ganhando maior notoriedade popular com o programa televisivo “Conversas Vadias”, na RTP1, em que conversava com Miguel Esteves Cardoso. Ninguém esquece a sua irreverência – não tinha Bilhete de Identidade ou número de contribuinte -, aliada à clareza do seu discurso e pensamento.
É todo este percurso invulgar que se pode descobrir no documentário de João Rodrigo Mattos, que percorreu todos os locais por onde passou o pensador. O filme apresenta o testemunho e a memória daqueles que com ele conviveram e trabalharam, desde a gente simples do povo aos mais ilustres cidadãos da cultura luso-brasileira, com destaque para Mário Soares e Lagoa Henrique, ambos influenciados pelo contacto e opiniões de Agostinho da Silva, até ao actual ministro da cultura do Brasil, o músico Gilberto Gil. O documentário termina com uma selecção do melhor das suas intervenções televisivas.
Luis Martins