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O Onze

Querem tirar a maternidade da Guarda, mas o grave mesmo é que ninguém, ou pelo menos muito poucos, se parecem interessar com tal desaparecimento. As notícias sobre o encerramento de maternidades, nomeadamente em Mirandela e em Castelo Branco, fazem crescer ondas de contestação ao mesmo tempo que se delineiam estratégias e formas de luta. Por aqui, depois de um lacónico comunicado de médicos da Guarda, publicado aqui neste jornal, onde se apontavam razões para o não encerramento do serviço na Guarda e onde se apelava à contribuição da sociedade civil para a causa, parece que o assunto morreu por aí. Será que os Guardenses já nem pelo direito a verem os seus filhos e netos nascerem na sua terra lutam? Não merecerá esta causa bem mais do que uns simples comentários ou a escolha do assunto como “um mais” que é debatido à mesa do café? Interrogo-me sobre esta apatia que parece instalada. E vêm-me à memória outros acontecimentos em áreas bem diferentes mas que no essencial me parecem manifestações de um mesmo fenómeno. Lembro-me das tardes de futebol de “casa cheia” no municipal da Guarda. O apoio do público só acontecia quando a equipa jogava bem. Quando o apoio era mais necessário, por as coisas estarem a correr mal, fosse por falta de sorte ou por desacerto dos jogadores, aí ninguém se prestava a “puxar”. Mais grave ainda, quanto maior era o desacerto mais fortes eram as “bocas” a deitar abaixo”. Nessas alturas criticavam-se o treinador, os jogadores e até os dirigentes. E lembro-me que no final do jogo, se tudo tivesse corrido mal, não raros eram os adeptos que rasgavam os seus cartões de associados na cara do primeiro cobrador ou dirigente que lhe aparecesse pela frente. Nunca percebi muito bem esta forma de estar de muitos dos nossos concidadãos. Na altura lembro-me de se tentar encontrar a justificação na falta de bairrismo. Que ao invés de outras terras e de outras equipas a Guarda não era bairrista. Será essa também a justificação que hoje se pode aplicar na falta de luta pela eventual saída de um serviço tão importante como é a maternidade? Já agora, e para que a analogia ficasse completa, só faltava aparecer alguém da Guarda a pôr-se do lado dos que defendem a saída da Maternidade. Por estranho e absurdo que tal pareça, talvez não esteja assim tão longe (depois de um vereador da Câmara defender a aplicação de portagens na A23 é bem provável que o passo seguinte seja defender a saída da maternidade!) de tal acontecer.

Interrogo-me e tento perceber a apatia em que as pessoas parecem ter caído. Será que as pessoas concordam com a medida? Será que lhes é indiferente? Será ao menos que as pessoas têm conhecimento de que se pretende acabar com o serviço? Ou será que só quando a “Maria” vier ter o bebé é que as pessoas darão conta de que a maternidade já não existe? E mais tarde. Já imaginaram o que é ter nas equipas guardenses onze titulares naturais da Covilhã?

Por: Fernando Badana

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