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«O número de pessoas com dificuldades está a aumentar na região»

Cara a Cara – Entrevista

P – No seu quinto aniversário, qual o balanço que se pode fazer do trabalho desenvolvido pelo Banco Alimentar Contra a Fome da Cova da Beira?

R – Penso que é claramente positivo. Há cinco anos, quando esta ideia começou a germinar, primeiro houve um período de estudo para perceber até que ponto faria sentido avançar com um Banco Alimentar nesta região. Foi feito um levantamento sobre casos de pobreza, conversámos com pessoas que conheciam a realidade – porque eu não sou de cá – e chegou-se à conclusão de que valeria a pena. Começámos a pouco e pouco e, na primeira campanha, recolhemos cerca de 12 toneladas de alimentos. Foi uma acção pequena com poucos voluntários. Entretanto, começámos a fazer protocolos com instituições e, passados cinco anos, penso que contribuímos para ajudar algumas pessoas necessitadas da região.

P – Quantas pessoas já foram ajudadas?

R – Actualmente, estamos a ajudar mais de três mil pessoas com frequência. Todos os meses entregamos alimentos às instituições que depois os fazem chegar aos beneficiários finais.

P – Pode dizer-se então que os objectivos que estiveram na origem da instituição têm sido alcançados?

R – O Banco Alimentar tem dois objectivos base. O primeiro é recolher alimentos, aproveitando os alimentos que seriam deitados fora, o que, normalmente, é menos percebido pelas pessoas. O segundo é usá-los para ajudar quem tem dificuldades temporárias. Até aqui, esses objectivos estão a ser alcançados, embora menos o primeiro que o segundo, porque na região não há muita indústria alimentar e, nesse aspecto, a nossa missão é mais dificultada. Não temos a pretensão de ajudar toda a gente, mas, na medida das nossas possibilidades, estamos a ajudar.

P – Há muita fome na Cova da Beira e nos concelhos do distrito da Guarda abrangidos?

R – Há situações de pobreza que não chamaria propriamente de miséria, mas que são preocupantes. São pessoas com muitas dificuldades para viver o dia-a-dia e para conseguir uma alimentação minimamente equilibrada. Nessa condição há muitos idosos, desempregados e gente com outros problemas. Infelizmente, nos últimos anos tem-se assistido ao agravar da situação devido à crise económica do país, o que é preocupante.

P – A adesão da população tem sido a esperada?

R – Em termos de campanhas, fazemos a dos sacos há cinco anos. São dois fins-de-semana por ano e a adesão tem sido extraordinária. Começámos com 12 toneladas e, provavelmente, este ano até vamos chegar próximo das 50 toneladas. É verdade que alargámos o número de supermercados, mas tem havido mais donativos de alimentos, porque as pessoas conhecem o Banco Alimentar e sabem que vão chegar a quem precisa. Fora disso estamos um pouco dependentes do litoral. Recebemos alimentos de outros Bancos Alimentares, que têm contactos com empresas que não há na região, e de alguns produtores agrícolas locais, fruta principalmente. Talvez pudéssemos receber mais, mas também tem a ver com as nossas possibilidades, pois não temos equipamento de frio e não podemos armazenar. E isso dificulta-nos um bocado a vida em termos de recolha e distribuição.

P – Acha que a actual crise económica e social está a afectar organismos como o Banco Alimentar?

R – Penso que, apesar dessa crise, que é e foi real nos últimos anos, também houve alguma mudança de mentalidades. As pessoas estão, hoje em dia, muito mais conscientes da necessidade de ajudar o próximo e de participar nestas iniciativas, especialmente quando a instituição é credível.

P – São necessários mais voluntários?

R – Sim, mais voluntários permanentes. Há os voluntários das campanhas – neste momento já andam à volta de 600 – e depois os permanentes, porque o Banco Alimentar funciona todo o ano todo e é desses que precisamos mais.

P – Qual a prenda que gostariam de receber neste aniversário?

R – Estamos em vias de mudar de armazém, o que é o mais importante para nós, porque estamos com problemas de espaço. Portanto, a prenda que gostaríamos de receber eram as obras do novo armazém, pois já temos espaço. Estamos a contactar diversas entidades para conseguirmos as verbas necessárias e algumas mostraram-se disponíveis a ajudar. O equipamento de frio é outra ambição desde o início, mas nesta fase a prioridade são mesmo as obras do novo armazém.

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