A nova dramaturgia portuguesa está em cena amanhã e sábado no Teatro Viriato, em Viseu, com dois espectáculos distintos da companhia Teatro Praga. “De Repente Eu…”, que recebeu uma menção especial do júri do Prémio Acarte/Maria Madalena Azeredo Perdigão de 2003 da Fundação Gulbenkian, e “Um Mês no Campo”, galardoado com o prémio de reposição, inauguram a programação do mês de Junho e revelam as áreas em que se move o grupo liderado por Pedro Penim. O primeiro concretiza o desejo de levar textos portugueses aos palcos, enquanto o segundo é um trabalho experimental sobre um clássico do teatro russo.
“De Repente Eu…” (amanhã à noite) é o resultado dramático de uma selecção de segmentos da obra “A Noite e o Riso”, de Nuno Bragança (1929-1985). Acompanhando o universo do romance, “De repente eu” reconstitui uma Lisboa decadente e pré-revolucionária dos anos 60 em torno da reconstituição de um óbito. A morte é o motor da acção e os elementos de palco são introduzidos como se fossem provas num processo criminal. A peça é feita de metáforas, de memórias vasculhadas e de uma revisitação do passado num ambiente de descrédito tão forte nas instituições, que se impõe um primado da morte, de todas a mais fiável. “De Repente Eu..” é um espectáculo de Pedro Penim, Cláudia Jardim, Tiago Matias, Cláudia Gaiolas e André Teodósio, com interpretação de André Teodósio, Cláudia Gaiolas, Cláudia Jardim e Tiago Matias. No sábado é a vez do experimentalismo de “Um Mês no Campo” subir ao palco. A peça, baseada num texto clássico do teatro russo escrito por Ivan Turgueniev (1818-1883), nasceu de um trabalho de grupo. Na base desta produção estiveram a discussão do texto, a improvisação de cenas num ambiente campestre (na região de Vila Velha de Ródão) e o seu registo em vídeo.
Actores e encenadores reviveram durante um mês os três dias da acção para apresentar, no teatro, um confronto entre o universo do campo e o espaço urbano da Rússia oitocentista. Uma câmara de vídeo perseguiu-os e captou as suas reacções e as suas contracenas. Depois de escolhidas algumas cenas específicas, os actores fizeram improvisações sucessivas durante um período alargado, ficando tudo registado em vídeo. A ideia foi que num mês inteiro fosse construída a base do espectáculo que é agora apresentado em palco. A projecção vídeo é o suporte que justifica a relação dos actores com o campo e o cenário da história. Assim, o protagonismo de “Um Mês no Campo” é repartido pelos actores, por uma grande tela, onde são projectadas as imagens do campo, e nos espaços em que estas dimensões se cruzam. Pelo ecrã passam as angústias, as história cruzadas e o “mal de vivre” das personagens que vivem os dilemas do amor, da natureza e da liberdade. A tradução é de Pedro Penim para uma co-criação que envolveu André Teodósio, Carlos Alves, Sofia Ferrão, Sandra Simões, David Dias, Cláudia Jardim, Patrícia da Silva, Paulo Simões, Pedro Martinez e Pedro Penim. Os vídeos foram realizados por Paulo Simões, enquanto as fotografias são de Sandra Ramos e Sofia Ferrão. A interpretação fica a cargo de André Teodósio, Cláudia Jardim, Pedro Penim, Pedro Martinez, Sofia Ferrão, Patrícia da Silva, Sandra Simões, David Dias, Carlos Alves e Paulo Simões (no vídeo). Os bilhetes custam de cinco a 10 dez euros para cada espectáculo, sujeitos aos habituais descontos, e podem ser adquiridos nos dias das representações ou reservados através dos serviços do Teatro Viriato. Já na compra de ingressos para as duas peças, o preço é de 15 euros.
Luis Martins