Arquivo

O Norte visto por Thuban!

mitocôndrias e quasares

Um dos fenómenos mais interessantes a nível tecnológico que surgiu durante o período dos Descobrimentos foi a capacidade de navegação através das estrelas. A utilização das estrelas como instrumento de navegação revestia-se de um misto de técnica bastante refinadíssima para a época, quando se utilizavam astrolábios e quadrantes, e de técnicas bastantes simples, como seguir a estrela Polar quando decidiam caminhar para Norte.

Esta ideia de procurar um ponto fixo na esfera celeste para nos indicar um ponto cardeal não foi exclusivo dos navegadores portugueses, já no Antigo Egipto se procuravam alinhar os monumentos com uma estrela que permanecia fixa. Este fenómeno aconteceu, por exemplo, quando a saída de ar da fachada Norte da pirâmide de Quéops, no Cairo, foi direccionada para a estrela de Thuban. Da descrição feita anteriormente saltam logo duas questões. As estrelas são pontos fixos no Universo? Se a saída de ar era a da fachada Norte da Pirâmide porquê estar alinhada com a estrela Thuban e não com a estrela Polar?

A ideia de estrela como um ponto fixo no espaço foi um conceito bastante consensual na comunidade científica durante largos anos, o próprio Newton acreditava nas estrelas como pontos fixos. Contudo, a persistência dos observadores e o aperfeiçoamento da instrumentação permitiu uma acumulação de registos das posições das estrelas.

Estes registos quando comparados com outros de séculos anteriores permitiu concluir que as estrelas têm movimentos próprios e o aspecto das constelações vai-se modificando. As velocidades relativas das estrelas são da ordem das dezenas de quilómetros por segundo. Porém, como elas estão muito afastadas de nós, esse movimento é imperceptível durante o tempo de vida de uma pessoa, daí vermos as estrelas como pontos fixos.

Mas se observarmos o céu nocturno, tomando como referência uma estrela, em duas horas distintas da noite verificamos que essa estrela não ocupa a mesma posição. Este movimento aparente das estrelas deve-se ao movimento de rotação da Terra, que provoca um movimento fictício das estrelas. Olhando, ainda com mais atenção, verificamos que existe um ponto que permanece fixo – estrela Polar. Esta estrela apresenta a característica singular de indicar o Norte geográfico.

Com Norte geográfico dado pela estrela Polar será que os Egípcios estavam mesmo errados ao indicar este ponto cardeal através da estrela Thuban?

A Terra não é completamente esférica, sendo achatada nos pólos, apresentando um movimento de rotação permanente, o nosso planeta responde a uma perturbação que origina um movimento cónico descrito pelo seu eixo. Este movimento cónico, cujo período é de cerca de 26 000 anos, é denominado movimento de precessão. Devido a este movimento, o eixo da Terra vai apontando para diferentes estrelas, isto é, se o eixo da Terra varia na sua orientação espacial, é claro que as posições dos pólos celestes também se alterarão. Na actualidade, o pólo celeste norte é assinalado, pela estrela da cauda da Ursa Menor, denominada estrela Polar. Há 5000 anos, a estrela polar era Thuban, da constelação do Dragão, tal como era utilizado no Antigo Egipto.

Quem sabe se daqui a uns milhares de anos não teremos de voltar a olhar para o Norte pela Thuban!

Por: António Costa

Sobre o autor

Leave a Reply