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O Museu da Água que nunca vamos ter

Era para ser o “ex-libris” do Rio Diz mas nunca foi posto a concurso

Está previsto que a zona do Rio Diz venha a ser transfigurada num enorme parque urbano de lazer de 85 hectares. O empreendimento, orçado em cerca de 35 milhões de euros, devia estar concluído em Junho de 2004, mas a sua finalização foi adiada para Setembro deste ano, estando certo que bom número dos projectos traçados pela PolisGuarda não vão concretizar-se até lá.

Pretende-se que o Parque Urbano seja um espaço de grande atractividade, capaz de acumular múltiplas funções, como a actividade física, o recreio, o lazer e a cultura. Está prevista a construção de percursos de manutenção, ciclovias e pontes pedonais. Este projecto, sugerido no Plano Estratégico da cidade desde 96, foi imaginado durante as autárquicas de 1997 no seio da candidatura de Maria do Carmo Borges. Para ali foi programada a construção de um Museu da Água, um Centro de Interpretação da História de Portugal, um Museu dos Têxteis, um Jardim da Ciência, um parque infantil, lagos artificiais com docas para gaivotas, uma praia fluvial, vários percursos pedonais, de bicicleta, duas zonas habitacionais com padrões de qualidade, uma área comercial e vários parques de estacionamento. O projecto de intervenção paisagista é da responsabilidade de João Nunes, arquitecto paisagista, que tentou assegurar a sustentabilidade – ecológica e económica – do futuro parque urbano. Quanto à ideologia do empreendimento, João Nunes garante o parque será, de certa forma, como «construir um bocadinho do mundo». Um sem fim de propostas ambiciosas e de equipamentos «de qualidade», que tarde ou nunca irão ver a ver a luz do dia. Irreparável poderá ser a perda do Museu da Água, anunciado como sendo o “ex-libris” do parque urbano. O projecto era para ser o símbolo futurista de uma área que se pretende requalifica e moderna.

Arrojado e surpreendente, o arquitecto Alexandre Burmester propôs para a Guarda uma autêntica revolução na imagem do museu tradicional, apresentando como subjacente a ideia de uma conduta de água ou de canal suspenso. Estava previsto que o equipamento surgisse próximo da via de acesso à cidade e IP5, junto a um espelho de água formado por um pequeno dique na junção do rio Diz e de um afluente. A solução apresentada em estudo prévio era simplesmente deslumbrante e estava orçada mais de 1,2 milhões de euros. Especialista em projectos relacionados com a água, Burmester, que participou na elaboração do Plano Estratégico do parque, idealizou uma estrutura com 250 metros de desenvolvimento linear, ao longo da qual o visitante é chamado a fazer um percurso relacionado com o parque e o ciclo da água. Este elemento e o sol devia ser as fontes de energia de um museu onde o visitante iria mergulhar no lago, sob o qual descobriria grutas e assistiria a um filme sobre a história de uma gota de água num ecrã de 180 graus. Até lá, num percurso didáctico e recreativo, as pessoas deveria passar por um tubo de betão com o céu como cenário. Os visitantes eram depois transportados por um tapete rolante movido pela própria força da água produzida por um jacto que sai do lago, gerado pela energia solar que produzida por painéis solares colocados ao longo do tubo.

Um trajecto pretendia simbolizar o sistema da evapotranspiração. Ao precipitar-se no interior deste percurso, a água accionava, por um lado, o tapete rolante e, por outro, produzia a energia que moveria o elevador hidráulico na continuação dos percursos. Finalmente, era encaminhada até uma câmara de calor que a faria condensar e precipitar. Uma chuva que muitos visitantes poderiam ser chamados a testar. O segundo percurso caracteriza-se por uma viagem ao subsolo e às redes hidrológicas subterrâneas. Nesse espaço, de configuração esférica, poderíamos seguir o ciclo da água antes de regressar à superfície através de uma rampa que brotaria do interior do lago. Até à saída, o visitante iria caminhar sobre uma estrutura que pretende simbolizar o leito de um rio, até chegar a uma exposição didáctica sobre a importância da água na vida e sobretudo a necessidade da sua preservação como o mais importante recurso do futuro. O projecto nunca chegou a ser posto a concurso.

Luis Martins

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