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O mundo é uma bola

observatório de ornitorrincos

A poucos meses do início do Campeonato do Mundo de futebol na Alemanha, julgo ser essencial explicar aos leitores mais desatentos (ou que tenham estado em coma desde os 4 anos de idade) algumas das ideias fundamentais do jogo.

O JOGO

O futebol é um desporto praticado por equipas de onze homens, excepto quando se joga futsal ou futebol feminino. A principal regra do futebol é ser totalmente disputado com os pés, nomeadamente nos remates à baliza e nas declarações de praticantes e dirigentes. É permitido usar a cabeça, mas apenas para usar penteados à Abel Xavier ou cabecear a bola. Em nenhuma circunstância a cabeça deve ser usada para perversidades como pensar e reflectir. Para pensar, o futebol tem a figura do treinador, ou em português, mister.

AS TÁCTICAS

É importante perceber isto das tácticas, não tanto para perceber o que se está a passar no campo, mas para conseguir entender os comentadores da televisão. A primeira informação a saber é que as tácticas são numéricas e a soma deve dar sempre dez, apesar de se usar o sinal de subtracção (ex: 4-4-2). Apesar do futebol ser jogado com onze, isto acontece porque o guarda-redes não tem nada a ver com o resto da equipa, já que o jogador que ocupa a baliza apresenta três características exclusivas: usa uma camisola diferente, joga a bola com as mãos e insulta os colegas da própria equipa. Se acontecer alguma equipa não ter dez jogadores de campo ou já foi alguém expulso ou o leitor está a ver um jogo de râguebi.

Antigamente, chegaram a usar-se letras para descrever as tácticas, como a famosa WM, assim chamada porque os jogadores desenhavam um W e um M no relvado. Esta prática foi prontamente proibida pela FIFA, com medo que o futebol se transformasse em natação sincronizada, um desporto sem nenhum interesse se não for disputado por mulheres em fato de banho dentro de uma piscina.

Na designação das tácticas, vai-se da defesa para o ataque. Assim, 4-4-2 significam quatro defesas, quatro médios e dois avançados. Isto para os leigos, obviamente. A escola de pensamento gabrieliana (seguidores de Gabriel Alves) decompõe de forma muito mais complexa a realidade táctica do futebol (por ex., 3-1-2-2-1-1), sendo o objectivo último destes desconstrucionistas chegar à táctica suprema 1-1-1-1-1-1-1-1-1-1.

OS COMENTÁRIOS

Um relato de futebol tem um alcance superior ao da mera observação táctica. Exige toda uma hermenêutica para compreender as interpretações accionistas e funcionalistas dos pontapés na bola. Expressões já caídas em desuso como “a força da técnica contra a técnica da força” eram mais do que uma simples explicação, representavam uma completa mundivisão do futebol. Neste mundo menos estável e mais erotizado, Joaquim Rita é o profeta dos comentadores. Se o leitor ouvir falar em “espaços de penetração”, “violação da área restritiva”, “linhas de corte” ou “admirável jogo de cintura”, o mais provável é estar a assistir a um jogo do Mundial 2006 e não ao AB… Sexo de Marta Crawford.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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