Arquivo

«O Ministério da Educação ameaça a estabilidade e qualidade do sistema educativo»

Cara a Cara – Sofia Monteiro

P – Quantos professores do distrito terão ficado por colocar?

R – É possível fazer um cálculo aproximado do número de professores do Quadro de Zona Pedagógica porque o distrito se encontra identificado. Neste caso, o número de professores aproxima-se da centena, com maior incidência no pré-escolar, na Educação Visual e Tecnológica, Português e Matemática do secundário. Não consigo apurar o número aproximado de professores do Quadro de Escola, mas ainda estarão alguns por colocar e, portanto, em “horário zero”. Professores contratados são certamente muitos a avaliar pelo panorama nacional a que o distrito da Guarda não é alheio.

P – Os professores com “horário zero” aumentaram há um ano. Quais as expetativas para 2013/2014?

R – As expetativas para este ano são piores porque há cerca do dobro de professores em “horário zero” face ao que se verificou em igual período do ano passado. Apesar do ministro da Educação ter afirmado que tal não se verificaria, a realidade é esta: há mais professores em “horário zero” e os que foram colocados foram-no a grandes distâncias. A título de exemplo, posso referir o caso de professores de Seia e Gouveia que foram colocados em Coimbra e Leiria e professores da Guarda que foram colocados na Sertã, Proença-a-Nova, Oleiros, Castelo Branco e Aveiro.

P – Os professores distribuídos são suficientes para as reais necessidades das escolas do distrito?

R – Não. As turmas são demasiado grandes, pois há professores a lecionarem quatro anos de escolaridade na mesma sala de aula no 1º Ciclo e os professores de Educação Especial não são suficientes para o apoio que os alunos necessitam… Constituíram-se mega agrupamentos que massificam tudo, inclusive as tarefas que os professores têm que realizar, pelo que estes têm que se desdobrar e tentar organizar-se para que a resposta da escola seja a melhor e a que os alunos têm direito segundo o que define a Constituição. Neste momento, as escolas e os professores fazem um trabalho hercúleo que a ser distribuído e dividido por outros colegas (nomeadamente os que querem dispensar) faria toda a diferença.

P – Que impacto terá este atraso nas colocações no ano letivo que agora começa?

R – Para além do prejuízo óbvio que é para os alunos não terem todas as disciplinas a começarem na mesma altura, há todo um trabalho conjunto de preparação do ano letivo – que todos os professores fazem a partir de 1 de setembro – que é vedado a quem é colocado mais tarde e que depois terá que ser feito individualmente.

P – Há algum problema que afete mais as escolas do centro do que as do resto do país?

R – Os problemas são comuns ao todo nacional. No interior acresce o facto de estarmos a assistir a uma rápida desertificação que, aliada a uma elevada taxa de desemprego, leva a que os casais jovens e com filhos emigrem. As políticas que estão a ser adotadas têm esse efeito, mas não resultam apenas de uma redução da natalidade, pois são sobretudo resultado do fraco ou nenhum investimento no interior que não cria emprego e não fixa as pessoas nas localidades. O fenómeno tem vindo a acentuar-se mas não por uma fatalidade ou por um capricho do destino. Veja-se, por exemplo, o encerramento das escolas das aldeias que tem dado um grande contributo para a sua própria morte. Não havendo estruturas que façam as pessoas ficar, elas são empurradas para as vilas e daí para as cidades onde são constituídos mega agrupamentos, com turmas enormes, grandes demais para nos ouvirmos uns aos outros. Este não é um projeto de futuro!

P – Que medidas acredita que deveriam ser tomadas pelo Ministério da Educação para melhorar as condições dos professores?

R – Em tempo de crise nunca se deve desinvestir em educação, mas este Ministério da Educação, em particular, todos os dias ameaça a estabilidade e qualidade do sistema educativo ao adotar uma filosofia economicista e sem a visão de futuro que todos merecemos. Temos todos os recursos necessários para readaptarmos o sistema aos tempos em que vivemos, aproveitando, por exemplo, para fazer turmas mais pequenas, já que tantas vezes se afirma que há falta de alunos. Melhorava a qualidade das aprendizagens dos alunos e as condições de trabalho dos professores. Evitavam-se tantos professores com “horário zero” e desempregados e os resultados seriam seguramente no sentido de um combate efetivo ao insucesso e abandono escolar. Ganhava o país e garantíamos o progresso.

P – Já estão a ser preparadas algum tipo de medidas de protesto?

R – Temos estado a acompanhar todas as situações que nos vão sendo relatadas, quer por escolas, quer por professores, seja por dificuldades de funcionamento e falta de professores em algumas escolas ou por erros nas colocações. Fazemos o respetivo acompanhamento jurídico e interpelamos o Ministério da Educação no sentido da sua resolução. Iremos realizar plenários e uma manifestação no dia 26 com professores contratados e desempregados. Estamos também a preparar uma manifestação de professores aposentados para o dia 25 em Lisboa e estamos sempre disponíveis para apoiar e defender a escola pública e os professores em tudo o que nos solicitarem.

Sobre o autor

Leave a Reply