O meu país é lindo! A sua natureza, a biodiversidade, o sol, as praias, a gastronomia, a montanha e o mar, o clima ameno e a gente. Nós, os portugueses, que sabemos receber como ninguém e que todos os dias acreditamos que e o sonho que comanda a vida.
Um país assim, lindo, onde é bom viver, em paz e segurança, poderia ser a Flórida da Europa, atraindo turistas, novos residentes, empresas, capital, investimento e gerando emprego. Todavia, a questão que se coloca é:
Porque é que este país, com tão grandes potencialidades, com uma costa e uma soberania de mar tão imensa, está tantas vezes em crise?
E a resposta, seca, dura, politicamente incorreta, sem preocupações de estilo, é a de que existem cinco grandes razões que explicam este fenómeno:
A primeira é o facto dos principais partidos políticos do arco da governação nunca se terem entendido, nem convergido, numa estratégia e em políticas de médio e longo prazo.
A segunda razão está na ascensão, nos principais partidos políticos, de uma escola de profissionais da política, imatura, que, em geral, é pouco qualificada, preconceituosa e arrogante.
A terceira razão está no radicalismo ideológico dogmático da esquerda e extrema esquerda portuguesa, que reivindica a paternidade da Revolução e a maternidade da Constituição.
A quarta razão está na corrente do sindicalismo português que age como correia de transmissão do dogma ideológico daquela esquerda e se instalou nas grandes empresas públicas.
A quinta e última reside na Constituição da República, a nossa Lei Fundamental, que não obstante os vários processos de revisão ainda continua a ser interpretada como se tivesse petrificado e eternizado normas dogmáticas e rígidos princípios ideológicos, que terão de permanecer intemporais, numa conceção de raiz claramente positivista.
Estas cinco razões impedem as reformas estruturais que é necessário realizar em Portugal para conter o défice público, dar competitividade à economia, atrair capital e investimento produtivo e gerar emprego e bem-estar à população. Enquanto isso não acontecer, não sairemos do défice estrutural, não diminuiremos a dívida pública, não baixaremos os impostos que permitiriam atrair capital e empresas, não crescerá a economia para gerar novos empregos e viveremos em permanente instabilidade social e política.
Não se defenderá o Estado Social nem os mais desprotegidos, pois existirão sempre cortes, na saúde, na educação, na Segurança Social e comprometer-se-á, irremediavelmente, o futuro dos mais jovens.
Ciclicamente, haverá sempre uma nova maioria, uma clientela a satisfazer, o mesmo autoritarismo sem doutrina, o mesmo programa sem alternativa, a imposição que não admite a crítica, num combate sem metas, que acaba sempre na mesma circunstância de todos os tempos.
Não seremos, por consequência, a Flórida da Europa, nem uma praça financeira e muito menos um país com viabilidade económica e, por isso, com melhor futuro.
Por: Júlio Sarmento
* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e antigo líder da Distrital do PSD da Guarda