Os salários de alguns causam inveja. Causam inveja porque são enormes, imensos, neles cabendo o salário de um qualquer mortal toda a sua vida. Assim surgem ricos estonteantes e pobres envergonhados. O salário da minha mulher cabe dez vidas no prémio de Mexia. E a minha mulher trabalha como ele no Estado, e faz o melhor que sabe e pode, e luta contra a adversidade. Ele gere muitos milhões de um monopólio, não de uma luta concorrencial, só de um monopólio. Ele tem prémios e ela não. Este Mexia é muito melhor que a minha Alda Mexia que escolhi para matrimónio. Esta Alda não trazia o Mexia certo, que o bom dava prémios. Esta Alda trabalha e não gere, cumpre sem hesitação, adapta-se às asperezas, soluciona os imprevistos e por essa razão o seu pequeno Estado avança e possivelmente dá lucro. Mas ninguém lhe dá a parte do lucro que projecta. É o Mexia burro. O Mexia bom provoca lucro e saca seu quinhão. Minha mulher lá está a viver sua primeira vida à espera de, na décima, chegar ao salário anual de Mexia, o eléctrico. Sem prémio, pois teria de viver mais vinte e Deus não deixa. Só os gatos têm sete e os santos três por cada filho. A Alda “transpira as estopinhas” para chegar ao fim do mês com os filhos aprumados, a comida na mesa e o seu trabalho arrumado. Do Mexia eléctrico sabemos menos. É por certo inteligente, gere uma coisa de que não podemos desistir, trabalhe ou não, aquilo dará sempre lucro e, por certo, não cuida tanto os filhos, pois a sua dedicação à empresa não contempla sono nem férias. A minha Alda, por um ano daqueles emagrecia, não dormia, educava, fazia Portugal melhor. Mas saiu-me a Mexia fraca. Gerir assim deve ser muito incentivador. Eu sou dono do que todos têm de comprar, faço o preço que bem quero, decido onde vou e como vou levar o produto ao cliente, compro ao estrangeiro petróleo a rodos para criar este produto que só eu tenho e com espanto descubro que dou lucro, que seria preciso para não dar? Talvez a Alda com o treino que tem de levar 600 euros ao fim do mês, educando, alimentando, vestindo, pagando a luz caríssima do Mexia Bom, a água desmedida do Serra Bom, os transportes de alguém muito bom, os telefones dos gestores da PT milionários, conseguisse fazer a EDP mais rica ainda. Isto é o sumo da revolta que começa a encher Portugal e pode acabar na rua à pedrada.
Por: Diogo Cabrita