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«O mercado da Panasqueira tem qualidade e a empresa tem pés para andar»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– António Matias

– Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM)

– Profissão: Mineiro

– Idade: 42

– Hobbies: Tempo é quase todo dedicado ao sindicato e aos amigos

P-Qual é a real situação das Minas da Panasqueira?

R- Aquilo com que fomos confrontados, aquando da reunião com a empresa para apresentar a proposta salarial e as nossas reivindicações, é que a situação financeira não será a melhor. Haveria também um problema com a produção, pois o volfrâmio estava em baixo por causa da descida do dólar em relação ao euro, uma fase que só poderiam ultrapassar se aumentassem a produção, o que não aconteceu. Esta é a situação que se conhece actualmente.

P-O que vai acontecer aos 220 trabalhadores da empresa?

R- As nossas diligências junto da Governadora Civil de Castelo Branco, do presidente da Câmara da Covilhã e no Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT) são para que as pessoas continuem empregadas. Por isso iremos ter uma reunião no Ministério da Economia. A empresa dizia que ia suspender o trabalho esta semana e há uma certa confusão que a administração tem que esclarecer.

P-Que confusão é essa?

R-A empresa já passou por um fecho em 1993. Houve um processo negocial, os trabalhadores foram avisados com dois meses de antecedência, sabiam a indemnização que iriam ter e tinham os documentos para o desemprego. Na altura quase todos os trabalhadores rescindiram os contratos por mútuo acordo. A empresa reabriu mais tarde com grande parte daqueles trabalhadores. Agora não sabemos se é ou não propositado, mas a empresa chama-nos lá, vai ter com o Ministério da Economia e outras entidades, como a Câmara da Covilhã, e diz que vai suspender os trabalhos esquecendo os interesses dos trabalhadores. Esperamos que a empresa clarifique aquilo que quer e o que pensa fazer.

P-Concordam com esta posição da empresa? Haveria outras alternativas?

R-Achamos que há outras alternativas, por isso é que temos feito essas diligências para que se aproveite o mercado. A empresa precisa de desenvolvimento e estes três ou quatro meses em que não iria produzir até à recuperação do mercado seriam bons para fazer o desenvolvimento da mina: novas perfurações, novos acessos aos filões e novos montes. Mas para haver dinheiro para pagar aos trabalhadores e comprar nova maquinaria era preciso o apoio do Governo, do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e dos bancos, só que até agora, segundo a administração, todos têm negado.

P-Acredita que a empresa poderá voltar a laborar normalmente?

R-Sim, se houver este apoio que tem sido procurado junto daquelas entidades. Ainda há muito filão, o mercado da Panasqueira tem qualidade e a empresa tem pés para andar e para os trabalhadores manterem os seus postos de trabalho.

P-Se a empresa encerrar, as condições sociais das pessoas que vivem nessa zona irão agravar-se bastante…

R- Sem dúvida. A Beira Interior já está saturada de desemprego e se os trabalhadores tiverem que ficar nessa situação – esperemos bem que não – irá acontecer como em 1993. As pessoas não se governam com o dinheiro do subsídio e partirão para outras localidades à procura de trabalho.

P-Acha que esta situação poderia ter sido evitada?

R-Sim, já comentamos isso, pois o que foi dito pela empresa é que para ultrapassarmos esta fase era preciso aumentar a produção. O mercado está baixo, mas fazendo bem a produção a situação poderia ir-se aguentando. Com a baixa de produção, e, segundo diz a administração, bateram mesmo no fundo este mês, a capacidade financeira da empresa ficou em baixo pelo que manter esta situação só aumentará as dívidas, argumentam.

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