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O melhor museu do país

Museu dos Lanifícios da UBI prepara novo espaço para exposição permanente de utensílios do pós-revolução industrial

Como símbolo da revolução industrial portuguesa, o Marquês de Pombal ordenou a construção da Real Fábrica dos Panos em 1763-69, edificada com as pedras da muralha do antigo castelo. É neste espaço carregado de história que mora o Museu dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior (UBI), considerado no ano passado a melhor instituição museológica do país neste âmbito pela Associação Portuguesa de Museologia. Ali se pode descobrir a rota da lã e os primórdios dos lanifícios em Portugal.

Em 1975, durante as obras de reabilitação do edifício, foram descobertos buracos cilíndricos no chão que despertaram curiosidade. Depois de vários estudos e investigação chegou-se à conclusão que eram as fornalhas da fábrica, cuja utilidade era tingir os panos. Uma descoberta que motivou mais escavações arqueológicas, visitas à Torre do Tombo e culminou, a 30 de Abril de 92, aniversário da UBI, na inauguração do Museu dos Lanifícios, embora as suas portas só tenham oficialmente aberto ao público quatro anos depois. Actualmente o espólio é variado, existindo exemplares de toda a maquinaria e objectos necessários ao fabrico de tecidos. A maior atracção do museu é o «ambiente geral que representa», garante Amélia Marques, técnica de museografia. Desde teares do século XVIII, às rocas, passando pelas plantas utilizadas para tingir os tecidos, o museu conta a história da evolução desta indústria em Portugal e as condições de trabalho. Todas estas situações são acompanhadas por documentos e desenhos para melhor compreender determinados elementos, como a representação dos tingidores que «aguentavam temperaturas de cerca de 90 a 100 graus», assegura José Gaspar, guia do museu. A «grande» diferença entre este e outros museus é que o «nosso conta a história dos lanifícios na cidade, através de um conjunto de peças em exposição, e o seu impacto na sociedade covilhanense da época», diz a técnica. É este ambiente que chama as pessoas e que «atrai cerca de cinco a seis mil visitante por ano», confirma.

Ao entrar neste espaço arquitectónico pombalino, os visitantes podem ver um filme sobre a história dos lanifícios na região, antes de passar à visita guiada. Toda a rota da lã, desde a tosquia, limpeza e escolha, até ao processo de tingimento dos tecidos, é revista através das cinco salas, sendo a última dedicada especialmente aos mais pequenos. Todas as peças expostas foram encontradas nas escavações no imóvel, adquiridas pela UBI ou doadas por particulares. Para o futuro, já está em construção um complexo que acolherá peças da indústria de lanifícios pós-revolução industrial, com data de abertura para «daqui a mais ou menos dois anos», adianta o guia. Mas os projectos não se ficam por aqui, sendo a oficina têxtil, um espaço de formação no âmbito dos tecidos, um «dinamizador» do espaço museológico, confirma Amélia Marques. Este atelier recebe, durante todo o ano, os estudantes do curso de Design Têxtil e do Vestuário no âmbito de disciplinas práticas. Também acolhe, em Julho, Agosto e Setembro, estudantes do ensino secundário da Covilhã e Fundão, integrados no projecto nacional “Ciência Viva”. O objectivo é formar os participantes e ensiná-los a cardar, tecer, fiar e fazer o debocho da lã, «sensibilizando-os para a realidade têxtil da cidade», refere Amélia Marques. Actualmente o Museu dos Lanifícios da UBI conta com diversos parceiros estrangeiros, nomeadamente em França, Espanha, Reino Unido e Irlanda, recebendo diversas exposições temporárias nas suas galerias, tanto de particulares como de outras instituições museológicas.

Liliana Machadinha

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