Arquivo

O magnetismo terrestre

mitocôndrias e quasares

Actualmente vivemos numa época onde os acontecimentos sucedem e cheguem até nós a um ritmo vertiginoso. Neste sentido, a ciência e a tecnologia não são alheias a este facto, chegando quase todos os dias notícias sobre importantes avanços nas mais diversas áreas do conhecimento.

Quando olhamos para estes avanços científicos e tecnológicos percebemos que eles são o resultado da sociedade onde se desenvolveram, dominada por uma competição intelectual feroz que conduz à produção de novos conhecimentos no menor intervalo de tempo possível. Contudo, toda esta nova produção de conhecimento está suspensa numa enorme plataforma científica que resultou da acumulação de várias centenas de anos de investigação científica.

Através da história da ciência é possível verificar que esta plataforma foi sendo, muitas vezes, construída e a alicerçada de uma forma consciente, ordenada e rigorosa, e que em outras situações foi crescendo devido a golpes de sorte.

Foi através de um destes golpes de sorte que se consegui perceber um pouco melhor o funcionamento do campo magnético terrestre.

Para investigar o campo magnético terrestre é necessário perceber como ele se comportou durante vários milhares de anos, contudo, não é possível obter essa informação de uma forma directa uma vez que não existem registos históricos. Para obter esses registos, é necessário recorrer a pedras, cerâmicas e outras matérias que têm a propriedade de ficar permanentemente magnetizadas quando se formam, porque as matérias magnéticas que contêm alinham-se com o campo magnético da Terra na altura da sua formação. Foi um golpe de sorte como a descoberta dos tijolos de lama do Egipto que permitiu perceber que o campo magnético da Terra não é constante.

Estes materiais, que se conservaram devido ao clima extremamente seco do delta do Nilo, revelaram que quer a intensidade quer a direcção do campo magnético não são constantes, variando consideravelmente – chegando ao ponto de duplicar ou de se reduzir a metade no curto espaço de tempo.

Fonte do campo magnético

A fonte primária do campo magnético situa-se no interior da Terra, embora existam também contribuições de algumas rochas da superfície e da corrente eléctrica da atmosfera superior.

A composição do interior da Terra, em especial do núcleo, poderia sugerir que esta região fosse um enorme magneto permanente, contudo esta situação não é possível, uma vez que o calor é demasiado para permitir que qualquer matéria retenha o seu magnetismo. Por outro, um magneto permanente também não podia ser responsável pela variação do campo magnético. Desta forma, as correntes eléctricas são, essas sim, as responsáveis pela produção do campo, donde se conclui que existe uma espécie de dínamo que lhe dá origem. Um dínamo consiste num condutor eléctrico que se move em relação a um campo magnético.

As correntes eléctricas produzem campo magnético que por sua vez gera mais corrente eléctrica. Isto reforça a corrente original de uma maneira auto-excitante. Os dínamos de auto-excitação podem ser reproduzidos laboratorialmente, apresentando mesmo tendência para inversão do campo magnético. A principal dificuldade desta explicação reside no facto de até agora ainda não se ter produzido um dínamo que represente de forma realística o núcleo da Terra ou reproduza o comportamento do campo magnético.

Associada a esta dificuldade surge ainda outra questão de saber de onde vem a energia que permite accionar o dínamo, e que para a qual ainda não existe uma resposta consensual.

A energia que gera o campo

Uma das teorias mais prometedoras sugere que o núcleo exterior esteja a arrefecer ao passo que o núcleo interior vê a sua temperatura aumentar de forma proporcional, desta forma, á medida que a matéria solidifica, liberta o calor latente de fusão que é extraído por convecção, que desta forma fornece a energia necessária para activar o dínamo.

Outro aspecto ainda não muito bem compreendido é a influência do campo magnético em vários fenómenos naturais. Há provas de que as modificações meteorológicas estejam associadas às variações do campo magnético da Terra, tanto durante períodos de anos relativamente curtos, como em períodos maiores. Existe também a convicção de que o campo magnético seja utilizado como auxiliar de navegação pelas aves migratórias, apesar de ainda não se conhecer o mecanismo em detalhe.

Esta influência também pode ser exercida sobre o ser humano, pelo que, já sabe, da próxima vez que se sentir magnetizado por alguém pense se não estará numa zona de forte influência do campo magnético, antes de se deixar cair em tentação…

Sobre o autor

Leave a Reply