Olha afinal parece que o famoso princípio do utilizador-pagador foi chumbado por aquela cambada de comunas de Bruxelas ou Estrasburgo ou lá que sítio da Sibéria é que aquilo fica. Então o pobre do Senhor Ministro das Finanças a tentar tirar uma galinha da cartola (as pombas esgotaram) com uma magnífica e criativa operação de Lizebéque (lease-back em português mais erudito) de uma porradaria de edifícios do Estado que eram vendidas a fingir a uns senhores com excesso de liquidez e que depois esses senhores alugavam os mesmos edifícios aos serviços do Estado que já lá estavam e depois (mas um depois mais depois que o primeiro, já se vê), o Estado voltava a comprar aos mesmos senhores os mesmos edifícios que tinha vendido a fingir. Só que a compra já era a fingir menos um bocadinho. Acho eu. Que entretanto me perdi, mais ou menos a meio.
Mas o que achei magnífico foi o governo ter abandonado de vez esse pernicioso e quase comunista princípio da coerência doutrinária. Enfim, para dogmas já nos chegam os da Igreja, os do PCP e os que são publicados pelo Instituto da Qualidade a definir o tipo de pesticidas que podem entrar no SG Ventil, que tipo de plástico pode embrulhar o pão de forma ou a espessura máxima da linha de pesca para o robalo. Nem falo do cherne, para não me acusarem de recorrer a piadinhas fáceis e de atacar quem não está cá para se defender. Mas, voltando aos dogmas, Sua Excelência o Senhor Primeiro-ministro, Sua Excelência o Senhor Ministro das Finanças e mesmo Sua Excelência o Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, quando foi a discussão das SCUT, scut práqui, scut práli, os socialistas endividaram a pátria e mesmo a nação, e as gerações do futuro coitadinhas que pagassem a conta. E zás!, com toda a pujança, grande verticalidade e sentido de Estado acabaram com as maléficas e heréticas SCUT que nos iam deixar com uma tanga ainda mais pequenininha…
Mas como aquela é gente da pós-modernidade, e dogmas e doutrinas são coisa que não suportam, engendraram o tal esquema do Lizebéque, para que as gerações do futuro se arranjassem para pagar a renda dos prédios e as gerações do outro futuro a seguir comprassem os tais prédios. As tais gerações que não tinham nada que pagar as SCUT.
E se não tivessem dinheiro, olha, que fossem ao banco pedi-lo, que é para isso que os bancos existem. Para isso, e para arranjar uns lugarzinhos de Administrador Não Executivo aos ministros cessantes. Que, coitados, também têm de pagar as contas como os restantes mortais.
Esses gajos de Bruxelas são uns empatas, e uns comunas desgraçados.
Não se faz, pá. Deixem os homens trabalhar, pá.
Verdadeiras forças de bloqueio.
Um horror.
Tá mal.
Por: Jorge Bacelar