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O jargão de Assis e os riscos para o PS

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Quando era garoto fixei com muita dificuldade e alguma contestação o slogan do MRPP que dizia que “Staline não cometeu erros”. Era uma diretiva do Partido que possivelmente ainda resiste ao incontável número de idiossincrasias com que se pinta o quadro das intolerâncias e do fanatismo. Como algumas religiões que não admitem humor nem discussão e como alguns dirigentes imbuídos de um autoritarismo nefasto vem Francisco Assis dizer que o PS não se envergonha de nada do seu passado. Tenho pena porque se o mundo pudesse repetir-se estou seguro que muitas coisas poderiam fazer-se de modo diferente e certamente melhor. A deriva pelo despesismo é uma narrativa social-democrata que esquece o paradigma em que se vivia, a conjuntura mundial etc., mas é seguramente um assunto que teríamos de repensar. Foram milhões de euros de despesa do Estado sem reforma dele, milhões de gastos extravagantes em escolas, falhas na decisão das PPP, défice a raiar a estupidez nas empresas públicas, salários de funcionários do Estado muito acima do de Presidente da República. Conheço dezenas de derrapagens com o dinheiro público que podíamos ter controlado melhor. Caramba, “Staline não cometeu erros?” é preciso um “argumentário” rebuscado e contraproducente para inferir uma ausência de erro ou de embaraço em qualquer governação. Francisco Assis, a quem me prende amizade, tem esta obsessão de recuperar as águas que tinham passado a ponte e com isso embaraça a vitória do PS. Ninguém só fez bem e ninguém só faz mal. Os políticos têm de perceber que a irracionalidade dos argumentos transporta azedume onde o pote de fel está cheio. Transborda com vantagem para outros. Há novos quadros no PS, há gente fascinante nas universidades, há outros discursos para o futuro e por certo que o branqueamento de seja quem for é um erro colossal. Staline, meu querido Assis, cometeu milhares de erros. Sócrates é um anjo ao lado dele e cometeu por certo umas dezenas. O PCUS aceitou há décadas que o terror de Staline foi uma nuvem negra no socialismo.

Por: Diogo Cabrita

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