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O IPG, a UBI e o sector da Educação na Guarda

Crítica Construtiva

Tenho ouvido e lido nos últimos tempos muitas opiniões e comentários acerca de uma eventual fusão do IPG com a UBI. Uns defendam-na convicta e publicamente (opinião respeitável), outros sussurram-no a medo (não sabem o que querem, nem do que falam) e outros afirmam-no “entre linhas” (outros interesses se levantam).

De facto, trata-se de matéria complexa, mas só quem desconhece os problemas pode pensar que a eventual “fusão” ou integração do IPG (e do IP de Castelo Branco) com a UBI seria a solução para todos os males. Bem pelo contrário, na actualidade este é um caminho que não conduz a nenhum destino que não seja o empobrecimento da Guarda. Que vantagens teria a Guarda nesta integração? Alguém estaria à espera que a UBI encerrasse cursos na Covilhã para os manter na Guarda, ou que desviasse os seus recursos (humanos, financeiros e materiais) para a nossa cidade? Como garantiria a UBI a manutenção dos quase 3500 alunos que actualmente frequentam o IPG? Será que não percebem a importância que estes milhares de alunos (aos quais acrescem quase meio milhar de professores e funcionários), têm para o desenvolvimento da região. Que ganhos teria a UBI com a integração? Para além da Escola de Turismo e Hotelaria de Seia e dos nossos equipamentos em algumas áreas, a UBI apenas ganharia se no IPG encerrassem alguns cursos. Mas ganharia a Guarda alguma coisa? Não é por acaso que o Prof. João Queiroz, como cidadão guardense, responsável e inteligente, dizia em entrevista a este jornal que essa questão “não é uma prioridade neste momento”.

Definitivamente, este eventual “casamento” já teve os seus dias: hoje, cada uma das instituições fez o seu percurso, tem a sua história, as suas raízes, os seus defeitos e virtudes. E por isso, não é este caminho a seguir. O caminho passa por (e permito-me citar novamente o Reitor da UBI), “equacionar até em termos de economia de escala que há determinadas áreas em que uma cooperação poderia ser extremamente importante para a universidade, mas também para os Politécnicos”. De facto, o que importa é intensificar as relações de cooperação (o que está a ser feito) e sobretudo, dar passos para racionalizar e harmonizar a oferta formativa. Todos estamos de acordo que há algumas áreas de formação em que não deveria haver (porque não há espaço) duplicação de cursos nesta região. E por isso a “especialização” quer da universidade, quer dos institutos politécnicos da região em algumas áreas é absolutamente vital e vantajosa para todos. Mas esta é uma matéria que, já o referi, dificilmente as instituições, por iniciativa própria, serão capazes de enfrentar. E como esta é uma prioridade que consta do programa eleitoral dos dois principais partidos, é de esperar que nos próximos anos surjam novidades.

Estranhamente, ao contrário do programa dos candidatos a deputados pela Guarda quer do PS, quer do PSD, o programa eleitoral dos candidatos pelo PS à Câmara Municipal da Guarda, não faz uma única referência ao IPG. Sobre o ensino superior, apenas dizem que se comprometem a “Lutar pelo incremento do Ensino Superior na Guarda”. Como? Pergunta-se! Só os ingénuos não percebem o alcance destas palavras, que contrastam com as palavras dos candidatos pelo mesmo partido às legislativas, os quais se comprometem a “Apoiar o desenvolvimento do Instituto Politécnico da Guarda …”.

Com efeito, em matéria de educação, o programa do PS à CMG é atroz: para além deste aspecto, chama a atenção a ideia de “Promover a criação de uma Escola de Hotelaria na Guarda”. Que desorientação! Para quê esta escola? É necessária? Não tem o Distrito já uma escola nesta área em Manteigas que faz formação até ao Nível III? Não tem o Distrito uma Escola Superior do IPG que promove formação nesta área do nível IV e superior (Licenciaturas e Mestrados)? Não existem na Guarda empresas e organismos de formação que podem facilmente colmatar eventuais lacunas existentes? Pretende a CMG promover a concorrência dentro do próprio Distrito? Em nome de que interesses? Do público, certamente não é!

É esta promiscuidade entre interesse público e interesses privados que não aceitamos: estamos de acordo que à Câmara Municipal compete incentivar e apoiar a iniciativa privada, mas é preciso ponderar a forma desses incentivos. Nesta matéria, tem sido apanágio da CMG fazer os investimentos, realizar despesas e correr os riscos: os privados aproveitam estas benesses quando podem realizar lucros, e afastam-se e deixam o “menino” nas mãos da CMG quando há problemas. O exemplo da PLIE é elucidativo.

Perguntar-me-ão: não é interesse da Guarda ter uma Escola Profissional? Claro que é, mas eu respondo: não é interesse da Guarda ter muitas empresas ou ter muitos residentes? Sim, responderão. Então porque paga a CMG milhares de euros de renda pelas instalações da Escola Profissional da Guarda (muitos outros milhares são gastos em outras áreas) e não paga a renda das instalações de muitas empresas, comerciantes e residentes? Não promovem as empresas a criação de emprego e a riqueza? Pergunto ainda: não têm as escolas secundárias da Guarda e o Centro de Formação do IEFP na Guarda, capacidade instalada mais do que suficiente, para satisfazer a procura de cursos profissionais?

Que interesses pretendem os candidatos do PS à CMG satisfazer com esta nova “Escola de Hotelaria na Guarda”? Que os privados queiram criar esta escola, que o façam, mas não à custa do nosso dinheiro. Muito menos quando persistem pelo concelho habitantes que não têm direito a água canalizada ou ao saneamento básico.

Por: Constantino Rei

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