Um itinerário principal serve para estruturar um país e a ligação do Algarve a Trás-os-montes por via rápida parece-me uma excelente ideia. Portugal não se deve medir em horas, mas sim em quilómetros de distância e os empregos podem ficar longe desde que o espaço se percorra depressa e também de forma acessível. Os custos são hoje importantes, uma vez que as taxas e os impostos nos combustíveis e portagens tornam as distâncias medíveis por euros.
O que me parece mal desde sempre é a existência de inúmeras aldeias por esse Portugal fora. O Silva abre uma casinha num ermo e lá vamos todos dar-lhe água, luz, educação, saúde e saneamento. São toneladas de tubos e fios que servem de infraestrutura ao Pereira isolado e ao Silva longínquo. E para que servem aquelas aldeias todas do mundo rural se este simplesmente acabou? Produzir sem as regras europeias é proibido, manufactura é quase crime, artesanato é uma coisa extravagante, tal como o turismo do típico. O que nos faz viver são o “franchising”, as marcas do mundo, os agregados populacionais onde se concentram a indústria e os serviços. É nestes espaços que deve haver oferta quanto baste e é aqui que tudo fica mais barato e acessível a todos. A distância encarece e destrói recursos. A mão-de-obra barata algures, a qualidade do design e da informática noutro extremo do mundo, a gestão e o dinheiro noutros lados são as peças da globalização, e esta é imparável antes de darmos o salto para fora deste planeta. Primeiro seremos únicos, numa nova ordem mundial onde os ricos não têm fronteira, a pobreza é global e as diásporas vão consolidando populações que necessariamente mudam de língua e de cor. Quem não percebeu como a América lentamente muda de idioma? Quem não viu a França vestir turbante e ajoelhar para rezar a Deus? Depois da globalização e da “miscenização” sairemos deste lugar à procura de outras riquezas e de outros turismos.
A IP2 é uma estrada de estruturação para grandes centros urbanos e aqueles que percebem isto vão largando essas aldeias e vilas até à sua desertificação total. Para quê viver na Meda ou no Sabugal ou mesmo em Pinhel? Porque não concentrar as pessoas na urbe Guarda, Bragança, Covilhã e perceber como só essa solução faz sentido? Isto não se produz por decreto, mas a desertificação de Longroiva, Marialva, lentamente de Almeida, comprovará a lógica deste raciocínio. Claro que se as pessoas não se concentrarem nas urbes de média dimensão do interior mais tarde testemunharão a partida dos filhos para as metrópoles em que se vão tornando as cidades nação. Depois, aqueles imóveis da família vão perdendo janelas e o brilho de outrora e definham com as aldeias e vilas de bem intencionados.
Hoje Tóquio tem 20 milhões de habitantes, tal como a cidade do México e S. Paulo. Com 12 milhões há Paris, Londres, Istambul, Nova York, o eixo Duisburg-Dusseldorf-Bohn. E o que é Lisboa senão a cidade-estado dentro de Portugal? E Lisboa é só o 4º ou 5º lugar urbano da península. E o eixo Braga-Porto não é mais que uma resposta desmesurada a Norte, sorvendo ambas estas centralidades milhares de quadros das cidades do interior.
O mundo gira ao contrário dos tipos que são contra o IP2 e salta-lhes por cima sem os ver. A realidade sempre atropelou aqueles que a objectivam fotograficamente, pois a vida é dinâmica e corre para o amanhã. Será que os meus amigos cronistas de “O Interior” não me acompanham nesta visão? Será que o sacrifício das aldeias e a concentração nas cidades não é a solução? Não se percebe como é seguro que as gravuras vão mesmo ter de aprender a nadar? Não se percepciona como esta estrada pode ser a salvação das cidades do Interior? Eu voto no IP2 e na morte das periferias das suas cidades.
Por: Diogo Cabrita