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O INTERIOR e o elevado potencial

Opinião 15º Aniversário

Felicito O INTERIOR pelo 15º aniversário e pela sua profunda dedicação na promoção de uma região que (a)Guarda, há muito, por melhores “notícias”.

O nosso Interior (não o semanário) – outrora Portugal profundo e deprimido, passou a ser tratado como Territórios de Baixa Densidade. Uma designação técnica menos depreciativa, convenhamos, e mais consonante com os indicadores demográficos, sociais e económicos, progressivamente em baixa, demonstrados pelas estatísticas e que as projeções – ao que parece, não reabilitam.

Territórios de Baixa Densidade. Territórios de Elevado Potencial acrescentou o atual Governo.

Este “Elevado Potencial” – sugerindo uma capacidade virtual para o sucesso – que nos discursos políticos é reconhecido ao Interior, (mui) tarda, contudo, em revelar-se. Passados mais de quarenta anos, e apesar das estratégias e dos programas nacionais e comunitários de desenvolvimento territorial utilizados, o Interior, embora com alguns ganhos na redução de assimetrias e na melhoria das condições e da qualidade de vida das suas populações, não conseguiu a decisiva recuperação nos indicadores da demografia, do povoamento, da economia, do emprego e da riqueza.

Se a esta realidade somarmos o maléfico contributo dos últimos três anos da governação PSD/CDS (nomeadamente o impacto do aumento da carga fiscal e dos cortes realizados na despesa pública), o “Potencial” do Interior afigura-se-nos, ainda, mais contrariado. Com efeito, o enfraquecimento da atividade económica e do emprego, o encerramento e a agregação de serviço públicos fundamentais nas áreas da justiça, da saúde, da educação, das finanças e da segurança social, a degradação das condições e da qualidade de vida provocada pelos cortes nas prestações sociais, nas reformas e nos salários, cuidaram, suficientemente, de agravar a desertificação e o declínio económico do Interior, o empobrecimento das populações e as desigualdades no acesso a direitos, bens e serviços fundamentais.

Neste contexto, embora presentes as derradeiras oportunidades do Portugal 2020, e para a nossa região as vertidas no Programa Operacional Regional do Centro (Centro 2020) – cuja dotação global atinge os 2,155 mil milhões de euros para reforço da competitividade das empresas e do emprego, valorização dos recursos regionais e inclusão social – somos forçados a acalmar as expetativas em torno dos fundos europeus disponíveis e a antecipar que não bastarão para anular os prejuízos colaterais sofridos com a austeridade e para inverter os desequilíbrios regionais persistentes.

Ironicamente, um Interior com potencial que resiste à elevação…

Rita Cunha Mendes*

* Vice-presidente da Câmara de Aguiar da Beira e antiga colaboradora de O INTERIOR

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