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O impasse

Coisas…

Já toda a gente percebeu que, afinal, a intenção de encerrar as maternidades da Guarda e de Castelo Branco no sentido de “alimentar” a pequena unidade do “grande” hospital da Covilhã, está a ser muito mais difícil de concretizar do que, à partida, muitos pensariam. Podíamos pensar que tais dificuldades se ficaram a dever aos sucessivos movimentos populares e às declarações e tomadas de posição dos mais diversos políticos, mas o facto é que o atraso na decisão resulta, provavelmente, de um outro conjunto de fenómenos.

Em primeiro lugar não é fácil transformar de um dia para o outro uma pequena maternidade, com poucos partos e sem profissionais suficientes para garantir as exigências mínimas impostas pela Ordem dos Médicos, numa unidade capaz de suportar 2000 partos por ano, com qualidade e segurança durante as 24 horas do dia, 365 dias por ano. Uma coisa dessas leva tempo a concretizar, não pode ser feita de um dia para o outro, sob pena de se criar uma “barracada” de todo o tamanho, com populações desorientadas, profissionais sobrecarregados e, sobretudo, grávidas e recém-nascidos em risco. O problema do tempo, no entanto, implica que haja um hiato seguro entre o anúncio da decisão política e a concretização do projecto para que tudo possa ser devidamente organizado. E é aqui que a coisa se mostra difícil para os senhores que têm em mãos a responsabilidade da decisão.

Se o Sr. ministro da saúde ou o Sr. presidente da ARS do Centro anunciarem publicamente o fim das unidades obstétricas da Guarda e de Castelo Branco para daí a 6 ou 8 meses, por exemplo, desencadear-se-á de imediato um protesto público com consequências políticas devastadoras para o partido no poder; daí para a frente é sempre a descer em termos de popularidade e, como sabem, para um político as quebras de popularidade doem mais do que as contracções uterinas.

Por outro lado, se o anúncio fosse feito com uma semana ou duas de antecedência, para não deixar ninguém respirar, a coisa corria o risco de descanbar na tal barracada bem à portuguesa.

Face a este impasse estratégico, os senhores políticos têm optado pela não-decisão, contribuindo, em cada dia que passa, para um clima de incerteza que, de tão longo, já começa a cheirar mal.

Enquanto isto, alguns responsáveis hospitalares vão dando o seu melhor na defesa de argumentos, na criação de “factos consumados” e na insinuação de uma ou outra ameaça que cale quem, como eu, acha tudo isto aberrante, politiqueiro no pior sentido do termo e profundamente injusto para quem mais interessa: as grávidas e os seus filhos.

Por: António Matos Godinho

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